São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 1994
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Mais dois casos

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – As vésperas do prazo final que tem para encerrar suas investigações, a CPI do Orçamento expõe publicamente dois casos graves.
Há a suspeita de que o governador Joaquim Roriz, do Distrito Federal, teria a sua conta bancária abastecida por um esquema de distribuição de dinheiro que incluía um fantasma, sete deputados de Brasília e jornalistas. As operações detectadas movimentaram cerca de US$ 1 milhão. O governador tem ainda alguns dias para se explicar, mas a nova suspeita se junta a outras ainda não respondidas.
Os depósitos de exatos US$ 7.604,00 para cada um dos sete deputados no mesmo dia e no mesmo banco foram justificados pelo governador como empréstimos. Pode até ser, mas soa tão falso como a sorte de João Alves em loterias. E, sob o ponto de vista ético, esses empréstimos são no mínimo questionáveis. Imagine que bancada é essa de parlamentares cujos membros devem dinheiro para o governador que precisa de seus votos para administrar.
O outro caso importante é o do senador Ronaldo Aragão, do PMDB de Roraima. Aragão recebeu, ao longo de 91, no período em que foi presidente da Comissão de Orçamento, depósitos da Construtora Mendes Júnior no valor total de US$ 130 mil. Ele vinha sendo investigado por duas razões: seu patrimônio tinha se multiplicado por cinco neste mesmo ano de 91 e há suspeita de que tenha desviado ou utilizado irregularmente recursos destinados a uma entidade assistencial –que, coincidentemente, leva o seu nome.
É o primeiro senador envolvido. E é o primeiro caso em que se comprova o depósito de uma empreiteira na conta de um parlamentar.
Esses dois casos comprovam a tese de que as investigações não podem ser paralisadas. O Congresso há de encontrar fórmulas para, logo após o resultado da CPI do Orçamento, dar prosseguimento não apenas às sugestões do relatório final, mas às investigações incompletas ou mal iniciadas. Para isso será fundamental a ação da comissão especial criada por Itamar para apurar as denúncias que envolvem o Executivo.
É bom ter em mente que, qualquer que seja o resultado da CPI, o doloroso processo de depuração está longe de se encerrar.

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