São Paulo, sexta-feira, 14 de janeiro de 1994
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Primeiro-ministro da Itália renuncia

HUMBERTO SACCOMANDI
DE LONDRES

O primeiro-ministro da Itália, Carlo Azeglio Ciampi, renunciou ontem após apenas oito meses de governo. O presidente Oscar Luigi Scalfaro deve anunciar ainda hoje a dissolução do desacreditado Parlamento e a convocação de eleições, provavelmente para o final de março. Espera-se uma grande renovação na política italiana, abalada pelo escândalo de corrupção "Tangentopoli".
Ciampi, 73, foi o primeiro tecnocrata a chefiar um governo italiano. Ele vinha do Banco Central, que dirigiu durante 14 anos, e não era vinculado a nenhum partido. Ao assumir, afirmou que liderava um governo provisório e que seus principais objetivos seriam a reforma eleitoral e o saneamento do orçamento do Estado. Os dois foram alcançados.
Após realizar essas duas tarefas, Ciampi deu sinais de querer continuar no governo. Ele conseguia o apoio dos partidos tradicionais, principalmente a Democracia Cristã (DC) e os socialistas. Esses dois partidos são os mais envolvidos no escândalo de corrupção. Ambos temem ser dizimados nas próximas eleições.
Foi preciso que as forças de oposição, principalmente os ex-comunistas do PDS e os novos partidos em ascensão, exigissem no Parlamento um voto de desconfiança ao governo. "Não posso deixar de notar a profunda divisão no Parlamento", disse Ciampi ontem.
Quando ficou claro que o premiê renunciaria, a oposição retirou a proposta de voto contra o governo. Ciampi entregou então sua renúncia ao presidente Scalfaro. Ele deve continuar no cargo até a posse do novo governo.
Scalfaro se reúne amanhã com os presidentes da Câmara e do Senado para dissolver o Parlamento. Pela lei italiana, as novas eleições devem ser realizadas até 70 dias após a dissolução –ou seja, no final de março.
"Todos os italianos querem eleições o quanto antes", afirmou o senador Umberto Bossi, líder da Liga Norte. Se se repetir o resultado das últimas eleições municipais (de dezembro), o novo Parlamento estará dividido entre um bloco de esquerda, liderado pelos ex-comunistas, e a extrema direita, representada pela Liga Norte e pelos neofascistas.
Os partidos tradicionais –DC, socialistas, republicanos, liberais e social-democratas– deverão ser dizimados. Segundo a Folha apurou, a DC prevê que apenas 10% dos parlamentares conseguirão reeleger-se. Mais de um quarto dos deputados estão sob investigação policial no escândalo de corrupção.

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