São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 1994
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Titãs driblam complexo de inferioridade

ALEX ANTUNES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não foi só na escalacão mastodôntica que o Hollywood Rock 94 retrocedeu aos tempos do primeiro Rock In Rio, nos meados da década passada. Também o velho complexo de inferioridade brazuca, que parecia superado desde que o Sepultura decretou a modernidade do rock nacional, parece estar de volta. E a primeira vítima foram os Titãs.
A apresentacão deles –infinitamente mais pedaçuda que a posterior, dos megacoxinhas ianques do Poison (quem?)– começou ainda à luz do dia, com meia lotação, público entrando, clima de começo de festa, som pessimamente equalizado. Acontece que, em sua terceira apresentação em grandes festivais, os Titãs já são clássicos. A saída de Arnaldo Antunes (e consequente diminuicão no número de vocalistas) e o tempo restrito de show (uma hora cravada) transformaram a apresentação dos caras numa sucessão de hits do rock brasileiro –"Porrada", "Polícia", "AA UU", "Lugar Nenhum", "Flores", "Clitóris", e o ápice de "Bichos Escrotos"– encravadas no repertório pesado do último álbum, "Titanomaquia".
Na verdade, a segunda virtude de músicas recentes como "Será que É Disso Que Eu Necessito", "Disneylândia" e "Dissertação do Papa Sobre o Crime Seguida de Orgia" (para além de serem legais) é a de lançar uma nova perspectiva sobre o som da banda. Que pretende –aliás, quase sempre pretendeu– caminhar no arriscado gume entre o pop e o punk.
Assim, mesmo as quedinhas deles para o banal –como o "tchaca-tchaca" de "Marvin"– ressurgiram renovadas, mais ganchudas do que de costume. Descontados os já mencionados defeitos na qualidade do som, o set rápido e certeiro –dividido em cinco músicas exatas para cada vocalista, com doze composições antigas e oito novas– mostraram os Titãs em grande forma, sem dever nada aos gringos. Boa parte do público parece concordar: dedicou a maior parte da apresentação seguinte, a do tal Poison, a procurar pelos banheiros, refrigerantes, cervejas e sanduíches.

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