São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994
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Bill Clinton tenta evitar mesmo fim de Nixon

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, Bill Clinton, retorna hoje a Washington após onze dias de ausência, e vai encontrar sua situação política virada de cabeça para baixo. Quando deixou a Casa Branca para o enterro da mãe em Hope (Arkansas) e depois para uma viagem à Europa, o presidente estava com os mais altos índices de aprovação do público desde sua posse há um ano.
Agora, ele se vê diante de um problema ético que pode não vir a representar para ele o mesmo que o caso Watergate significou para Richard Nixon nos anos 70, mas vai ter consequências sérias para o futuro do seu governo. Ao contrário de Nixon, que acobertou o escândalo o quanto pôde e por isso foi obrigado a renunciar, Clinton está abrindo o jogo.
A secretária da Justiça, Janet Reno, com quem o presidente anda às turras, é a primeira beneficiária do processo. Como responsável pela nomeação e desempenho do procurador especial, ganha uma espécie de salvo-conduto enquanto durar o caso. Depois do secretário da Defesa, Les Aspin, de quem já se livrou, Clinton gostaria de tirar Reno de seu gabinete.
A terceira pessoa na hierarquia da Secretaria da Justiça, Webster Hubbell, com quem o presidente vinha despachando há meses, em ostensiva afronta a Reno, também está envolvido no caso Whitewater. Ele era associado de Hillary Clinton e Vincent Foster na Rose Law Firm, que representou o banco Madison Guaranty, de James McDougal, sócio de Clinton na Whitewater.
O caso vai afetar também a discussão do programa nacional de saúde preparado pela primeira-dama. Ela estava mais envolvida do que o marido nos negócios da empresa, e sua posição política pode ficar abalada com a apuração de novos fatos. Além disso, a discussão de Whitewater tende a roubar espaço de todos os outros temas na agenda nacional.
O ano de 1994 é de eleições para renovação de toda a Câmara dos Representantes, parte do Senado e vários governos estaduais. O Partido Republicano, de oposição, em especial seu principal líder e provável candidato à Presidência, Bob Dole, vão explorar ao máximo o caso Whitewater para obterem dividendos eleitorais em novembro.
Se as investigações conduzirem a provas contra os Clinton, o governo corre o risco de se paralisar ou, pelo menos, ser desacelerado. A capacidade de iniciativa do presidente, tanto em polítia externa quanto na pauta doméstica, pode ficar comprometida. Se a reação da opinião pública for muito negativa, Clinton pode até se ver em situação similar à de Nixon.
O casal Clinton vai tentar provar que sua participaçao na Whitewater era simbólica e que os negócios eram dirigidos apenas por James e Susan McDougal, seus sócios. A empresa só construiu e vendeu seis casas em seus 14 anos mas movimentou centenas de milhares de dólares. Suspeita-se que parte desse dinheiro foi usado para financiar as campanhas de Clinton.
A Whitewater não entregou declarações de renda ao fisco nos últimos três anos e é acusada de ter praticado diversas ilegalidades contábeis e administrativas. Ela é apenas parte de uma vasta teia de relações de negócios e pessoais entre os Clinton, os McDougal e outras figuras da política do Estado de Arkansas, promovidas à cena nacional desde 1992.

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