São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994
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Onda racista ganha fôlego na UE, diz documento

LEONARD DOYLE

No dia 11 de setembro 1993, um jovem marroquino chamado Omar estava parado na porta de um café em Liège (Bélgica) e conversava animadamente com uns amigos. Momentos depois estava morto, atingido por uma marretada dada pelo dono do café –que queria ver a calçada limpa.
O dono do café foi acusado de homicídio culposo e a polícia disse que a agressão não foi por motivos raciais, embora testemunhas tenham dito que ouviram comentários racistas dele, antes e depois do incidente.
Esse e outros casos estão em um relatório da organização de direitos humanos britânica Campanha Contra Racismo e Fascismo (Carf). Segundo o documento, o Reino Unido é um dos poucos países da Europa onde houve queda no número de mortes por racismo em 1993. Foram seis no ano passado, contra 12 em 1992.
De todas as mortes provocadas por racismo na União Européia (UE, antiga Comunidade Européia) em 1993, 17 foram de crianças com menos de 15 anos.
Um dos casos mais perturbadores ocorreu na Holanda. A marroquina Naima Quaghmiri, 9, morreu ao cair em um lago de Roterdã. Seu afogamento foi assistido por 200 pessoas –que ainda fizeram comentários racistas, dizendo que a garota era só uma imigrante e talvez uma "imigrante ilegal".
Em toda a UE, houve pelo menos 74 mortes em 1993 provocadas por racismo, um aumento de 13% em relação às 66 mortes pelo mesmo motivo em 1992.
Houve também um número desconhecido de ataques racistas, que deixaram milhares de imigrantes com sequelas físicas e psicológicas. A maior parte dos crimes foi cometida por pessoas ligadas a organizações políticas de extrema direita, segundo o Carf, e a maioria ocorreu na Alemanha. Nesse país, o número de pessoas mortas por racistas mais do que dobrou: passsou de 25 a 52.
A onda de ataques racistas continua a varrer o continente, apoiada pela extrema direita e por uma mudança gritante na opinião pública contra imigrantes e refugiados. Organizações políticas como a Frente Nacional francesa e o Partido Republicano alemão se caracterizam pelo ódio aos estrangeiros e a crença de que o continente está invadido por refugiados e imigrantes ilegais.
A extrema direita usa a bandeira da xenofobia e clama que a Europa está a ponto de ser dirigida por estrangeiros. O sentimento antiimigrantes não diminuiu, apesar das mortes. Ao contrário: políticos europeus insistem numa ofensiva contra os estrangeiros.
Charles Pasqua, ministro do Interior da França, disse na semana passada que poderia haver enormes levas de imigrantes do Leste Europeu e também da Africa. "No final da década haverá cerca de 130 milhões de norte-africanos, 60 milhões deles com menos de 20 anos e sem nenhuma perspectiva", disse Pasqua. Dados levantados na União Européia revelam, no entanto, um declínio no número de imigrantes desde 1980.
Os extremistas devem usar o tema da imigração em uma série de eleições na Europa este ano, incluindo o pleito para o Parlamento Europeu. Os que defendem a repatriação forçada deverão dobrar o número de seus deputados, já que o clima de protesto leva os eleitores a distanciar-se dos partidos tradicionais.

Tradução de Lise Aron

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