São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994
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A procura de Cinderela

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Honestidade, experiência e uma confiável proposta para enfrentar a crise econômica –pesquisa Datafolha publicada hoje mostra que esses três ingredientes compõem o sapato de vidro com o qual os brasileiros pretendem encontrar seu presidente. Quem conseguir enfiar um pé nesse calçado, está com o outro pé no Palácio do Planalto.
O eleitorado manda dizer que não vai perdoar candidato com a imagem de salafrários –ou seja, quem tiver de explicar por muito tempo seu patrimônio nos programas de televisão e palanques, melhor ir mudando de idéia e não entrar na corrida. Esse quesito emagrece a lista dos atuais presidenciáveis em pelo menos três nomes, perseguidos pela imagem de envolvimento em irregularidades e financiamentos clandestinos de campanha.
Entre um candidato honesto e incompetente e um desonesto competente, imensa maioria (71%) não vacila –chuta a competência para o espaço. Na Região Sul, essa taxa sobe para 79%. A julgar pelos humores do brasileiro, está enterrado o candidato do "rouba mas faz".
O brasileiro está cansado de tantos planos fracassados. E se sente mais pobre. Seu candidato tem de apresentar uma proposta que baixe a inflação e coloque o Brasil na rota do desenvolvimento. Fernando Henrique Cardoso vai bem no quesito seriedade, mas não tombaria caso seu plano deixe de apresentar resultados concretos?
Por estar cansado de fracassos e de invenções, o eleitorado, segundo o Datafolha, está à procura de experiência. E, aqui, está um dos pontos frágeis do líder das pesquisas. Luiz Inácio Lula da Silva é um veterano na política e conhece como nenhum outro candidato a pobreza brasileira: guarda em seu currículo ser o primeiro a propor uma campanha contra a fome, aceita pelo presidente Itamar Franco. Foi Lula, aliás, quem sugeriu o nome de Betinho para liderar o movimento.
Mas Lula é inexperiente como administrador: a presidência seria seu primeiro cargo no Executivo. Para complicar, o PT carrega as tendências mais exóticas e radicais da política brasileira. Quanto maior se apresentar a crise econômica durante a campanha eleitoral, mais será cobrado do candidato um plano viável e rápido.

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