São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 1994
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No inferno com os anjos

GIANNI GANOVA

–Os anjos de seus filmes têm um forte poder metafórico...
–Fazer um filme com anjos como protagonistas me permite assumir diante da Alemanha, de Berlim e da vida cotidiana um ponto de vista particular, que não seria possível com outro herói ou com personagens humanos. Os anjos vêem de uma maneira diversa, captam a essência das coisas.
–Os seus anjos captam vozes, discursos, palavras...
–"Asas do Desejo" foi o primeiro filme onde tratei a linguagem verbal com a mesma atenção dada às imagens. Com o olhar dos anjos descobri um novo aspecto das palavras.
–"Até o Fim do Mundo" trazia polêmica contra a civilidade das imagens a favor da palavra. Por que?
–Hoje, o cinema e a TV são dominados pela obsessão de vender qualquer coisa: idéia, produto, estilo de vida. Há um espírito publicitário que não existia nos primórdios do cinema e se tornou dominante na cultura audiovisual contemporânea. É uma epidemia, como se um vírus tivesse penetrado na cabeça e nos olhos de quem faz e vê cinema.
–Nada se salva?
–Há uma enorme criatividade nas imagens contemporâneas. São de uma beleza magnífica. Mas toda beleza, não só física como moral, está sempre subordinada ao marketing.
–Em "Tão Longe Tão Perto" o anjo que se torna homem se chama Karl Engel. Por que?
–Esse nome é antes de mais nada uma piscadela cúmplice para o público. Queria relembrar que o marxismo, embora terrivelmente pervertido pela história, no início se baseava na idéia de que não estamos tão longe daqueles anjos.

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