São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Samba-enredo corre e quase vira frevo

Coleção reúne melhores de 10 escolas

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

A marchinha de Carnaval não morreu. Está se infiltrando na alma de seu pretenso assassino –o samba-enredo– e comendo por dentro a cadência original do gênero. A recém-lançada coleção de dez CDs "Escolas de Samba do RJ" flagra a crescente aceleração do gênero ao longo de 40 anos.
O objetivo da coleção é, segundo o produtor e maestro Rildo Hora, 54, retratar os sambas mais conhecidos da história das principais escolas. Hora contratou onze especialistas para escolherem o repertório básico de cada escola e convidou cantores "que tivessem vínculos com as respectivas comunidades".
Dominguinhos do Estácio defende a antologia da Estácio de Sá; Martinho da Vila, a Vila Isabel e assim por diante. Em alguns casos, o produtor chamou cantores ligados às escolas, mas que não puxam samba, com Beth Carvalho para cantar Mangueira. Faltaram Jamelão, puxador da Mangueira, e Paulinho da Viola, que começou na Portela. Sem eles, os discos perde em importância. Rildo explica: "Queria que o Jamelão cantasse, mas ele está lançando seu disco e não aceitou. Quanto a Paulinho, foi a gravadora BMG Ariola que proibiu".
Outra omissão está nos textos. Limitam-se a introduzir genericamente cada escola, sem explicar o contexto histórico da produção e fornecer dados sobre os compositores. A questão da autoria fica sem explicação. Como se sabe, samba-enredo é fruto mais de "brainstorm" do que de um único autor.
Hora acha preciso criar um novo termo para o samba-enredo atual, algo como "samba-marcha". Sente-se a diferença entre Silas de Oliveira dos anos 50 e seu quase 4/4 e os frevinhos dos anos 80 e 90, tipo "O Tititi do Sapoty", de Dominguinhos, Darcy do Nascimento e Djalma Branco. A marchinha se vinga e triunfa no Sambódromo.

Coleção: Escolas de Samba do Rio de Janeiro
Escolas: Estácio, Salgueiro, Mangueira, Portela, Império, Beija-Flor, Imperatriz, União da Ilha, Mocidade e Vila Isabel
Intérpretes: Dominguinhos do Estácio, Neguinho da Beija-Flor, Martinho da Vila, Beth Carvalho, João Bosco, Roberto Ribeiro, David Correa e outros puxadores de sambas
Lançamento: Sony Music
Preço; CR$ 5 mil (o CD, em média)

Texto Anterior: Eastwood filma inferno em cores claras
Próximo Texto: Brasileiros e veteranos levantaram festival
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.