São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 1994
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Promotor eleitoral quer apurar contas sindicais

CRISPIM ALVES
DA FOLHA ABCD

Promotor eleitoral que apurar contas sindicais
O promotor da Justiça Eleitoral de Santo André, José Luiz Saikali, deve determinar nos próximos dias a realização de uma perícia contábil no Sindicato dos Condutores Rodoviários do ABC. De acordo com o promotor, objetivo da análise dos livros contábeis é descobrir como a entidade usa e administra o dinheiro que arrecada. Com isso, Saikali espera saber se parte do dinheiro era utilizada para financiar campanhas eleitorais e como isso era feito.
As denúncias de financiamentos de campanhas eleitorais pelo sindicato começaram a ser feitas no final de novembro do ano passado pelo então presidente da entidade, Oswaldo Cruz Júnior, assassinado no último dia 6. Raimundo Costa dos Santos, secretário-geral interino do sindicato, disse ontem que, independente de determinação judicial, uma auditoria será feita nas contas de entidade.
No dia 27 de novembro, Cruz revelou ajuda financeira para as campanhas a vereador de ex-diretores da entidade –Pedro Luís de Mello, Benedito Aparecido Fermino, Raul Correia, todos do PSDB de Mauá, e João Antônio Santos (PTB-Santo André), que confirmaram ter recebido ajuda.
No dia seguinte, ele disse que o sindicato contribuiu com dinheiro e material para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República em 89, informação negada pela direção do PT. Cruz afirmou também, no dia 9 de dezembro, que o sindicato colaborou financeiramente para a campanha do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel (PT) em 88. Daniel negou a ajuda.
A ajuda de sindicatos, direta ou indiretamente, em campanhas eleitorais é proibida por lei. A proibição consta no inciso 4.º do artigo 91 da Lei Orgânica dos Partidos, de número 5.682/71. A pena máxima prevista para os responsáveis pelo crime, de acordo com o artigo 346 do Código Eleitoral, é de seis meses de prisão. Segundo Saikali, a punição cabe para quem autorizou a ajuda e para quem a recebeu. O promotor afirmou ainda que em alguns casos, como o da campanha de 89, o crime já prescreveu.
Saikali discute a realização da perícia contábil no sindicato hoje ou amanhã com o delegado Walter Antônio César, da seccional de Santo André. César preside o inquérito que apura o uso do carro de som do sindicato, conhecido como "Gabriela Eletrônica", em campanhas eleitorais.
A reunião do promotor com o delegado servirá também para determinar uma nova linha de investigação do caso, uma vez que a principal pessoa a depor foi assassinada. Saikali afirmou ainda que vai pedir ao delegado a convocação de Clodovil Aparecido de Carvalho, irmão de Oswaldão. "O Clodovil passou a ser uma pessoa chave porque ele diz estar com a documentação que compravaria as denúncias do irmão."
Morte no sindicato
A Promotoria Criminal do Fórum de Santo André encaminhou no último dia 12 uma petição para que a Procuradoria-Geral de Justiça interceda junto à Secretaria de Segurança Pública para pedir o afastamento do delegado Nélson Guimarães das investigações que apuram a morte de Oswaldo Cruz Júnior. O setor de protocolo da Procuradoria-Geral informou que a petição foi encaminhada no mesmo dia à assessoria do procurador-geral de Justiça Marino Pazziglini Filho. Pazziglini, segundo seus assesores, decidiu que a Promotoria de Santo André tem autonomia para pedir à Justiça a transferência do inquérito para a cidade.
Mesmo sem haver decisão sobre o assunto, o delegado passará a colher os depoimentos das testemunhas na Delegacia-Seccional de Santo André. A medida foi tomada porque várias testemunhas pediram para ser ouvidas na cidade, segundo prevê a lei.

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