São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 1994
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Maquiadores e cabeleireiros são as estrelas 'invisíveis' da moda

ERIKA PALOMINO
DA REDAÇÃO

Há mais fogueiras das vaidades no mundo da moda do que possa imaginar um ingênuo 'fashion victim'. Além da mais previsível competição entre modelos e estilistas, há todo um universo de egos e talentos que fica –mesmo– nos bastidores de desfiles, fotos e filmes. São os maquiadores e cabeleireiros, as estrelas invisíveis da coisa, que no circuito internacional começam a ganhar visibilidade com nomes como Stephane Marais, Julien D'Ys e Kevin Aucoin. No Brasil, com a morte de um dos principais profissionais do setor, Marcelo Beauty, num acidente de carro durante o fim-de-semana, é boa a hora de fazer um quem é quem.
Como no meio das modelos, as agências é quem agem no mercado. Tiram 10% do cliente e 20% do profissional como comissão. Entre os mais requisitados profissionais do país, apenas um deles, o lendário Aluísio "Lili" Ferraz, trabalha sem a ajuda delas. Famoso pela sensualidade que imprime aos rostos que faz (e pela sua própria), Lili não precisa de "bookers", os profissionais das agências que marcam os trabalhos.
Em São Paulo, são duas as agências: a First, com quatro anos de existência, e a Trucco i Capelli, com quatro meses, que entra com a saudável e difícil tarefa de quebrar um monopólio. Em Nova York, por exemplo, há 20 agências.
Com 30 profissionais, a First tem mais definido o sistema dos top maquiadores. Que é semelhante ao das top models –não nas mesmas cifras. São cabeleireiros e maquiadores que não saem de casa por menos de US$ 300 (CR$ 118 mil). Como Duda Molinos, Mauro Freire, Tadashi, Danton, Robin e Nilo Feliciano. Para os outros, a diária é cerca de US$ 200 (CR$ 79 mil).
Esses "outros" reclamam da existência dos tops e fazem plantão nas agências, para fiscalizar como estão sendo "bookados" e que trabalhos estão entrando. Angela Fonseca, 39, uma das donas da First juntamente com Patricia Lamastra, 28, disse que "acaba tendo" essa coisa de tops pelo próprio preço que os profissionais cobram. Nega protecionismos e explica que a maior parte dos clientes já sabe quem escolher para cada trabalho.
Na Trucco, que, segundo se diz no meio, nasceu justamente para atenuar esse tipo de polêmica, são 25 os profissionais –alguns com mais outros com menos nome– sob o comando quase eufórico de Sun Dourado, 34, ex-First, dono da agência com o fotógrafo Alvaro Elkis, sócio-executivo. Sun dispara: "não posso me dar ao luxo de ter estrelas aqui. Quando isso acontece, a agência tem culpa. E eu não vou vender alguém como 'de primeira' ou 'de segunda' senão vira açougue". Numa coisa os dois concordam: "Não dá para ser pretensioso ou arrogante na hora do trabalho", diz Angela.
Como no mercado de modelos, o êxodo para o exterior acontece. Mas com muito mais dificuldade. Joca, da First, está em Milão, Duda Molinos foi a Nova York, se cansou e voltou. Nilo Feliciano, 28, dez de profissão, prepara-se para uma segunda estada lá, apoiado por trabalhos com todos os fotógrafos brasileiros importantes e internacionais como Annie Leibovitz, Otto Stupakoff e Mark Baptiste. "É difícil. Aqui você é top, seu telefone toca e você sai para trabalhar. Lá você não é ninguém, tem que ir à luta mesmo, fazer testes, mostrar seu trabalho".
Para quem se empolgou com a profissão, aqui vão as agruras: filmagens em horários insólitos, até 16 horas de trabalho e, de novo, competição e "panelinhas". Angela da First avisa: "Entrar não é difícil. Ficar é que é".

FIRST - R. Comendador Eduardo Saccab, 392, tel. 011-535-0878, Brooklin, zona sul de São Paulo
TRUCCO I CAPELLI - R. Simão Alvares, 632, tel. 011-815 3002, Pinheiros, zona oeste de São Paulo

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