São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 1994
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Pobres sofrem mais com o terremoto

ANA MARIA BAHIANA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

As vítimas do terremoto de segunda-feira, os desabrigados que enchem os abrigos e acampam nas praças de Los Angeles são, em sua imensa maioria, pobres –imigrantes, estudantes, aposentados, trabalhadores. Um terremoto, aqui, é algo socialmente seletivo. Ao contrário de inundações e incêndios –dois outros problemas da cidade–, um terremoto dessa magnitude atinge mais diretamente quem mora em estruturas antigas, edifícios construídos nos anos 20 e 30 e subdivididos em dezenas de apartamentos minúsculos, ou em prédios modernos, mas construídos com materiais baratos e precauções mínimas.
A realidade do mercado imobiliário do sul da Califórnia é que uma casa segura contra terremotos é cara –porque utiliza recursos modernos e materiais de boa qualidade e porque se localiza em regiões geologicamente mais estáveis (e, por isso, mais caras).
A mão do destino, é claro, ainda atua: uma bela casa no topo de Mulholland Drive, que deve valer mais de US$ 1 milhão, pode muito bem ser empurrada colina abaixo. Mas as chances de desabar um prédio barato, no coração de um subúrbio do vale de San Fernando, são muito maiores.
E foi exatamente isso que aconteceu com o Northridge Meadows, um edifício típico dos subúrbios californianos, de paredes finas e estruturas fracas, com apartamentos sala-e-quarto alugáveis (quase todos para estudantes e funcionários da universidade Cal State Northridge, pública) por US$ 300 a US$ 400 –e que soterrou 16 das 43 vítimas fatais.
Os desabrigados são uma situação um pouco diferente: umaboa parte dos refugiados são sobreviventes de desabamentos como os do Northridge Meadows ou gente cujas moradias foram condenadas pelos inspetores da segurança pública. Mas muitos são angelenos assustados, inseguros, incapazes de encarar quatro paredes sem pensar em desabamento. (AMB)

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