São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 1994
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Manter o oxigênio

Apesar da extrema gravidade da situação econômica e social, o ministro Fernando Henrique Cardoso vem tendo um motivo não desprezível de relativa estabilidade: o apoio, ou pelo menos o silêncio, do presidente Itamar Franco quanto a questões econômicas. Basta lembrar o estrago provocado pelas declarações do presidente sobre economia durante as gestões dos ex-ministros Krause e Haddad para verificar a importância dessa mudança no comportamento de Itamar.
Ao contrário, Fernando Henrique pôde transmitir à população um grau maior de unicidade do Executivo, resultando em mais credibilidade junto à sociedade.
Há hoje, entretanto, dúvidas de que essa situação persista. Há indícios de que o presidente está preocupado com a demora de resultados do Plano FHC e com os níveis atuais de inflação.
Não se pode negar que o patamar de inflação incomoda. E incomoda muito. A grande maioria da população conhece os efeitos devastadores da mesma sobre os salários, por exemplo. No entanto, o país também já aprendeu que choques econômicos sem equilíbrio fiscal não resolvem o problema –apenas trazem poucos meses de ilusória estabilidade.
O Plano FHC está idealizado em três etapas: aprovação do Orçamento zerado, criação e utilização da URV como indexador e transformação desta em uma nova moeda. É somente na terceira etapa que se pode imaginar uma queda forte da inflação.
A tarefa da equipe econômica não é fácil. Os sinais de dificuldade na utilização da URV já se fazem mostrar, mesmo antes de sua criação. Resta esperar que o presidente continue apoiando o Plano FHC e o seu ministro da Fazenda, evitando assim uma fonte adicional de incerteza para o país –que, afinal, já tem motivos de sobra para se preocupar.

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