São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 1994
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Até quando?

"Quousque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?"
(Cícero, "Catilinárias")

Não se trata de querer transformar os corredores do poder em um convento. Sabe-se que a política é capaz de despertar violentas paixões e que as pessoas, por vezes, perdem o autocontrole. Daí às cenas de gangsterismo por parte de algumas autoridades que o país vem sendo obrigado a assistir vai uma imensa diferença.
Com efeito, há poucos meses os brasileiros viram, perplexos, a tentativa de assassinato cometida pelo governador da Paraíba. E não se trata de um fato isolado. Há algumas semanas, os jornais estampavam frase de um senador da República que dizia que contrataria jagunços para eliminar um político adversário. Anteontem, foi a vez de o senador e ex-ministro de Estado Alexandre Costa (PFL-MA) ameaçar atirar no deputado Luiz Salomão (PDT-RJ), em pleno restaurante do Senado.
Como já se disse, não se pretende que os políticos ajam como uma madre Teresa de Calcutá, mas é evidente que existe um mínimo de decoro que as autoridades têm de exibir. Afinal, espera-se que os encarregados de criar e aplicar as leis do país tenham um pouco de apego às mesmas.
E para piorar ainda mais este já lamentável quadro, esses políticos não respondem por seus atos. O governador da Paraíba, por exemplo, continua no posto e só poderá ser processado ao fim de seu mandato. É evidente que a impunidade só contribui para incentivar ainda mais as ações e ameaças dos arruaceiros valentões que chegam à política.
Assim, a proposta de diminuir a imunidade concedida a políticos merece todo apoio. É óbvio que parlamentares têm de estar protegidos contra eventuais processos em razão de suas opiniões. Algo bem diverso é proteger pessoas que saem ou ameaçam sair atirando em seus adversários.
* Tradução: "Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?"

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