São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 1994
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'Argentina ameaça a posição do Brasil'

ANTONIO CARLOS SEIDL

Segundo sir Colin Marshall, corrupção, inflação e violência urbana reduzem o número de viajantes para o país
MERCADO EUROPEU
A nossa resposta às novas oportunidades do mercado único na Europa foi investir em alianças com empresas da Europa continental, através da joint venture Deutsche BA, criando uma nova empresa na Alemanha, e a aquisição de uma participação substancial da TAT, na França, que possibilitou a entrada da marca British Airways no mercado francês, aumentando dessa maneira a competição e escolha nos vôos entre Paris e Copenhague, Munique e Estocolmo.
Nosso objetivo é desenvolver uma empresa pan-européia, conforme sugerem os executivos da União Européia e os líderes políticos europeus. No mercado europeu ainda há restrições ao mercado livre, como resultado do atual período de transição solicitado por algumas empresas. Quando isso acabar, em 1997, conforme previsto pela União Européia, haverá competição livre na indústria de aviação do continente. A principal consequência para o consumidor acontecerá depois da privatização das grandes empresas estatais de aviação da Europa –Air France, Lufthansa e Iberia, entre outras–, que terão de defender somente as iniciativas comerciais para seu sucesso empresarial, da mesma maneira que acontece atualmente com a British Airways.
PASSAGENS MAIS BARATAS
A British Airways defende o mercado livre na indústria da aviação porque uma situação de intensa competição impede o aumento em termos reais (isto é, acima da taxa de inflação) dos preços das passagens. É verdade que, com poucas exceções –a British Airways é uma delas–, as empresas aéreas têm tido muitos prejuízos nos últimos anos. A indústria como um todo teve um prejuízo de US$ 4,8 bilhões em 1992. As empresas deficitárias, quase todas estatais, sobrevivem graças aos subsídios governamentais ou ao mecanismo de proteção contra a falência, conforme ocorre nos EUA. Esses são fatores que distorcem a competição e se constituem em áreas de preocupação para a BA.
POSIÇÃO DO BRASIL
A British Airways não tem obtido os resultados esperados com seus quatro vôos semanais entre Londres, Rio de Janeiro e São Paulo. Isso é o reflexo da difícil situação econômica do Brasil. Mantivemos nossa parcela do mercado, mas as operações têm sido difíceis. Iniciamos a ligação de São Paulo com Santiago em outubro passado, e os primeiros resultados são encorajadores. A British Airways tem serviços de Londres para o Brasil, México, Venezuela, Argentina e agora Chile. Reiniciamos nossos serviços para o Brasil em 1985. A posição do Brasil, principal mercado da BA na América Latina –38% do nosso faturamento na região até 1992–, está ameaçada pelo crescimento do mercado argentino. Depois de uma longa ausência na esteira da guerra nas Malvinas, em 1982, voltamos ao mercado argentino em 1990. De lá até hoje, o faturamento dos nossos serviços para a Argentina alcançou 20% do total na região.
O mercado brasileiro continua a oferecer o maior potencial para a indústria de aviação em geral e para a BA em particular. Gostaríamos de ver estabilidade econômica e política no Brasil. As reportagens publicadas na imprensa européia sobre corrupção política, inflação incontrolável e violência urbana no Brasil reduzem significativamente o fluxo de viagens de negócios e de turismo da Europa para o Brasil.
ALIANÇAS NA AL
Nossos esforços atualmente estão concentrados no desenvolvimento do potencial das alianças firmadas nos últimos anos –USair, nos EUA; Qantas, na Asia e Pacífico; Deutsche BA, na Alemanha; TAT European Airlines, na França; e GB Airways, no sul da Europa. No momento, não temos planos para alianças ou investimentos em participação acionária nas grandes empresas de aviação internacionais ou regionais da América Latina. A prioridade de expansão da BA está no mercado promissor do Extremo Oriente, onde ainda não celebramos nenhuma parceria. Nossos planos para a América Latina, e para o Brasil, podem mudar quando o crescimento do mercado justificar novos investimentos. A BA está atenta ao surgimento de novas oportunidades.
AVIÃO DO FUTURO
Uma das grandes inovações da indústria da aviação para o futuro será o desenvolvimento de um novo grande avião, o projeto NLA (das iniciais em inglês de New Large Airliner). A BA está em negociações sobre esse projeto com as principais empresas fabricantes de aviões. O projeto NLA tem como objetivo a fabricação de um avião capaz de transportar 600 passageiros, em três classes, com mais conforto e capacidade operacional. O custo médio por passageiro/milha deverá ser 20% menor que os níveis atuais do Boeing-747, por exemplo. Nossas pesquisas indicam que o passageiro típico do futuro vai querer mais opções de ambientes no avião, menos barulho e vibração, maior escolha de atividades durante o vôo, maior rapidez e facilidade no embarque e desembarque.
A British Airways apresentou suas sugestões para o avião do futuro. Nossa proposta visa eficiência. Queremos abolir as inspeções de corrosão por toda a vida do avião e criar a capacidade de acesso dos computadores terrestres aos sistemas eletrônicos de bordo, de modo que o tempo de pequenos consertos e manutenção em terra seja mínimo. Também consideramos vital que o avião de 600 passageiros seja inofensivo para o meio ambiente, levando em conta os regulamentos do futuro para níveis de ruído e qualidade dos combustíveis.
FUTURO PRÓXIMO
Enquanto aguardamos o avião do futuro, contamos com a chegada do novo Boeing-777. Receberemos nossos primeiros 777 no segundo semestre de 1995. Com a BA, o 777 vai transportar até 313 passageiros, em três classes, nos vôos internacionais.
O novo 777 vai substituir os Boeing-767, que utilizamos nas rotas do Golfo, os DC-10/30, que estão em serviço desde meados da década de 70, e complementar o Boeing-747/400 nos principais serviços intercontinentais. (Antonio Carlos Seidl)

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