São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 1994
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Curto-circuito deu origem ao incêndio

DANIELA CHIARETTI; ROBINSON BORGES COSTA
DO BANCO DE DADOS

O alarme foi dado pouco depois das 8h30, quando uma fumaça fraca, saindo do 12º andar do Joelma, chamou a atenção de Agostinho Fornelli, recepcionista de um hotel próximo ao imponente edifício do centro da cidade. Ele pediu à telefonista que chamasse os bombeiros. Era o início da maior tragédia que São Paulo já vira. O incêndio do dia 1º de fevereiro de 1974 deixou 188 mortos e 345 feridos.
Mais de mil pessoas trabalhavam no número 225 da av. 9 de Julho, edifício concluído em julho de 1973. O Joelma era praticamente todo ocupado pelo banco Crefisul.
Uma sobrecarga elétrica provocou um curto-circuito no sistema de ar-condicionado. A pane produziu fagulhas. Às 9h, quatro dos 25 andares do Joelma queimavam. As pessoas que trabalhavam nos pisos superiores procuravam descer pelos corredores. Os que estavam embaixo tentava subir. O pânico deixou pessoas pisoteadas.
Antes das 10h já estavam aglomeradas, lá em cima, mais de cem pessoas esperando o socorro dos helicópteros. Dois anos antes, no incêndio do Andraus, eles haviam sido decisivos. Mas o Joelma não tinha heliporto. No topo, telhas de amianto, escadas e madeiras tornavam impossível o pouso.
Uma após outra, três pessoas se atiraram. A multidão que se formava nas ruas se solidarizava trazendo leite e lençóis, doando sangue em bancos improvisados, acenando para os que estavam presos.
O heliporto da Câmara Municipal, a poucos metros, foi transformado em pronto-socorro. Os guardas de trânsito fecharam as ruas de acesso ao incêndio para dar passagem às ambulâncias. O prefeito Miguel Colassuono decretou ponto facultativo para evitar o colapso no trânsito. A Bolsa de Valores suspendeu o pregão e empresas dispensaram funcionários do trabalho.
Policiais usavam megafones para pedir calma. Cordas jogadas dos helicópteros que não podiam descer foram utilizadas para ligar o Joelma ao edifício ao lado. A temperatura na cobertura oscilava entre 80 e 100 graus.
Por volta das 11h30 o fogo ganhava o edifício inteiro. Mais de 30 carros de bombeiro tentavam combatê-lo. As escadas Magirus, de 45 metros, não alcançavam os andares superiores. Mais pessoas se atiraram. Perto do meio-dia um helicóptero da FAB conseguiu aproximar-se da cobertura. Os que esperavam socorro foram divididos em grupos de oito pessoas e, aos poucos, resgatados.
Às 13h o Joelma rachara em vários pontos. Os bombeiros conseguiram entrar e encontraram corpos carbonizados, roupas e sapatos por todo lado, hidrantes emperrados, papéis, ferros retorcidos.
Uma hora depois o incêndio estava debelado. Às 17h foi resgatado o último sobrevivente –Kiril Petrov, o homem que, segundo os jornais, estava no Joelma naquele dia para apresentar à diretoria do Crefisul um plano para colocação de escadas de incêndio.
No fim do dia, 18 pessoas haviam pulado. O IML recebia o maior número de corpos que havia registrado. Somente vários dias depois, vias de acesso ao centro foram desenterditadas. Funcionários do Crefisul lotaram uma agência para anunciar que estavam vivos. Dia a dia, as manchetes dos jornais se superavam: 54 mortos; 70 mortos; 185 mortos; 188 mortos.

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