São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 1994
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O plano FHC está isolado

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Não existe alternativa de política econômica ao Plano FHC. O presidente Itamar Franco não tem e nem há, dentro de seu governo, qualquer ala que esteja formulando outra proposta. Às vezes o pessoal reclama que a vida está difícil com essa inflação, mas é queixa de gente comum, não a manifestação de autoridades. As oposições, de seu lado, não pretendem assumir responsabilidade de governo, mas complicar a situação do atual, de olho nas eleições.
Sobra, portanto, o Plano do ministro Fernando Henrique Cardoso -muito isolado. FHC tem apoio dentro do governo, mas não é um apoio militante. O próprio presidente não tem colocado o peso do cargo no esforço para aprovar as medidas. Parece que acabar com a inflação é problema exclusivo do ministro da Fazenda.
Fora do governo, o espírito normalmente destrutivo das oposições está revigorado pela possibilidade de FHC ser candidato a presidente da República. Assim, em vez de tolerância diante do governo, há severa hostilidade.
Saindo das instituições para a sociedade, também não se observa um movimento nacional pelo fim da inflação. As elites formadoras de opinião, aí incluídas as centrais sindicais, têm seus rendimentos indexados, de modo que a inflação não lhes parece o principal problema, ao menos agora.
Tudo considerado, o Plano FHC depende menos das questões técnicas e quase exclusivamente da política. É certo que se Fernando Henrique desistisse de sua candidatura a presidente e assumisse o compromisso de ficar no Ministério para tocar o plano, a resistência a ele diminuiria muito. Mas FHC só faria isso, convencido de estar fazendo a coisa certa, se tivesse convicção de que contaria então com sólido apoio para tocar o plano econômico.
Terá esse apoio? Não há indicações disso. O máximo que lhe oferecem, em troca da desistência da candidatura, é o fim das hostilidades abertas. Ou seja, FHC estaria mais ou menos como está hoje em relação ao governo e às elites. Ele lá na guerra e o pessoal de fora comentando: "esse cara é esforçado".
Resumo geral: independente do que ocorra com as candidaturas presidenciais, inclusive de FHC, é muito provável que neste ano não haja nada melhor senão esperar que a inflação não chegue a híper. E que ao menos se encaminhe um roteiro para o próximo presidente atacar a inflação antes que a híper acabe com todos nós.

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