São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 1994
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SFH pode exigir salário até US$ 4.250

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O sonho da casa própria não esbarra, apenas, na pouca disposição dos bancos em financiar a longo prazo com poupança captada de 30 em 30 dias. O maior obstáculo, pelo menos para a classe média, está mesmo na renda do mutuário.
Em fevereiro, os bancos poderão efetuar empréstimos de no máximo CR$ 24,9 milhões. É o limite de 7.500 UPFs (Unidades Padrão de Financiamento), a "moeda" do setor imobiliário.
Um financiamento desses equivale a cerca de US$ 54.000, suficientes para a compra, em São Paulo, de apartamentos de dois quatros com no máximo 70 metros quadrados de área útil.
Nessa faixa de preço, pesquisa do Datafolha aponta apartamentos de 51 m2 em oferta na Chácara Klabin, de 67 m2 no Jabaquara ou de 71 m2 em Santana.
Num financiamento de 7.500 UPFs e prazo de dez anos, a prestação inicial pode chegar a nada menos que CR$ 396.540, cerca de US$ 850 pelo câmbio comercial, aí incluídas as taxas de seguro.
Se o agente financeiro exigir que a prestação não comprometa mais do que 20% da renda, o candidato a mutuário precisará comprovar uma renda familiar mensal de CR$ 1.982.715, ou US$ 4.250. Mesmo que o comprometimento seja de 25%, a renda exigida seria de CR$ 1.586.172 (US$ 3.400).
Supondo que o banco financie em 15 anos, a prestação inicial baixaria para CR$ 337.138 (US$ 720), mas ainda assim o mutuário precisaria apresentar rendimentos de CR$ 1.348.552 (US$ 2.890) a CR$ 1.685.690 (US$ 3.600), dependendo da relação com a prestação inicial. É renda restrita a poucos assalariados.
Nos empréstimos, os bancos vêm fixando o comprometimento da renda entre 20% e 25% porque, pelas novas regras do SFH, a prestação não pode ultrapassar 30%. É necessária uma folga para que o limite não seja logo estourado.
Aplicados os reajustes, a prestação não pode superar 30% da renda, espécie de um "seguro" para o mutuário. Quando isso acontece há um recálculo, a diferença é lançada no saldo devedor e o prazo é esticado para que o mutuário consiga amortizar todo o financimento. Funciona como um financiamento dentro do mesmo financiamento original. Foi uma saída engenhosa para o SFH que, entretanto, ainda patina na baixa capacidade financeira dos candidatos a mutuário.

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