São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 1994
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Cinema nacional tenta renascer das cinzas

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O cinema brasileiro está ressurgindo das cinzas? Alguns sinais muito claros parecem dizer que sim. Há um filme brasileiro nas telas (o infanto-juvenil "Era uma Vez...", de Arturo Uranga), outro entra em cartaz esta semana ("Capitalismo Selvagem"), mas isto é só a ponta do iceberg: há sete filmes prontos e com lançamento programado, além de pelo menos 26 em fases diferentes de preparação ou finalização (leia quadro ao lado).
Outra boa notícia é uma certa descentralização da produção. Vários filmes estão sendo realizados fora do eixo Rio-São Paulo. Há pólos de produção em atividade em Brasília e Vitória (ES), além de produções esporádicas no Maranhão, Santa Catarina, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Apesar dos números expressivos –sobretudo se comparados aos dos dois últimos anos de secura–, cineastas e produtores evitam a euforia. "Este é o ano da retomada da produção. Os filmes vão aparecer mesmo a partir de 95", resume o produtor Aníbal Massaini Neto, presidente do Sindicato da Indústria Cinematográfica de São Paulo.
Mesmo essa retomada –impulsionada em parte pelas verbas concedidas em 93 pelo Banespa, e também pelo concurso do Ministério da Cultura, cujo resultado deve sair em breve– é encarada com reservas pelo setor. "Alguém disse: 'Vai ter feijoada'. Mas nós só estamos começando a juntar os ingredientes", diz Hector Babenco, um dos diretores com projeto em andamento ("Foolish Heart"). Walter Hugo Khouri, que prepara "As Feras", completa com outra metáfora: "Ainda não levantamos vôo. Estamos apenas ligando o motor".
Para Khouri –um dos poucos que lançaram filme em 93 ("Forever")–, "o essencial é filmar, senão você se sente frustrado, sem profissão".
Um dos pontos que mais preocupam cineastas e produtores é o estrangulamento do mercado exibidor para filmes brasileiros. Em outras palavras: como essa batelada de filmes vai chegar aos cinemas? A preocupação não é gratuita, sobretudo com relação ao mercado paulista. No ano passado, três longas-metragens exibidos no Rio não chegaram às salas de São Paulo: "Não Quero Falar sobre Isso Agora", de Mauro Farias, "Escorpião Escarlate", de Ivan Cardoso, e "Vagas para Moças de Fino Trato", de Paulo Thiago.
Para tentar furar o bloqueio do mercado exibidor e evitar que os filmes sejam jogados sem critério em qualquer sala, a alternativa é buscar distribuidoras independentes e fazer os lançamentos em cinemas já habituados a exibir filmes não-hollywoodianos.
Exemplos dessa estratégia são "Capitalismo Selvagem", de André Klotzel, e "Alma Corsária", de Carlos Reichenbach. O primeiro será distribuído pela Pandora e exibido, em São Paulo, numa sala do Belas Artes, cinema que costuma mostrar filmes europeus e asiáticos. A distribuição do segundo ficará a cargo da Filmes do Estação (patrocinada pelo Banco Nacional), que o deverá lançar também em salas selecionadas, como as do próprio Estação Botafogo, no Rio, e o Espaço Banco Nacional, em São Paulo.
Vários dos outros filmes programados para 94 serão lançados pela Riofilme, distribuidora da prefeitura carioca especializada em cinema brasileiro. Um desses títulos –"A Terceira Margem do Rio", de Nelson Pereira dos Santos– já tem data marcada para lançamento: 18 de fevereiro, dois dias antes da sua exibição na mostra competitiva do Festival de Berlim. --(José Geraldo Couto)

Colaboraram Marcelo Migliaccio, da Sucursal do Rio, Cynara Menezes, da Sucursal de Brasília, e Agência Folha.

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