São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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Itamar se despede 'firme em sua tristeza'

WILLIAM FRANÇA
SILVANA DE FREITAS

WILLIAM FRANÇA; SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na manhã da última sexta-feira, o presidente Itamar Franco recebeu a reportagem da Folha durante 40 minutos em seu gabinete para uma conversa informal.
Bem-humorado, Itamar falou sobre os três meses que restam para concluir o seu mandato e citou o poeta Fernando Pessoa para definir o seu mandato.
Mostrou o terminal de computador de onde quer acompanhar toda a apuração de votos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e serviu pessoalmente o café, num gesto com o qual procura quebrar a formalidade de algumas audiências.
Itamar lamentou não poder deixar a Presidência tendo cumprido a promessa de elevar o salário mínimo a US$ 100 e escolheu um momento que ainda não viveu como o mais feliz de seu mandato: a hora de passar a faixa presidencial para seu sucessor.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - O sr. vai descer a rampa ao passar a faixa para o novo presidente?
Itamar Franco - Vou ter de descer, uai!
Folha - Qual o momento mais feliz que o sr. teve nesses dois anos de governo?
Itamar - Ainda não veio. Vai ser quando passar a faixa para o meu sucessor.
Folha - E qual o pior momento que o sr. viveu?
Itamar - No exercício da Presidência não teve. Teve de ordem pessoal, que foi a perda da minha mãe (Itália Franco, no final de 1992) e do meu sobrinho (Ariosto Franco, em junho deste ano).
Folha - O sr. chegou mesmo a pensar em renúncia?
Itamar - Não, isso nunca me ocorreu.
Folha - O que falta ainda ser feito nesses três últimos meses de mandato?
Itamar - Vou continuar trabalhando até o final. Quero ainda fazer os ajustes que forem necessários (no Plano Real).
Folha - O sr. espera cumprir a promessa de elevar o salário mínimo para US$ 100 até o final deste ano?
Itamar - (com ar de desolado) Acho que não vai ser possível.
Folha - Com qual frase o senhor definiria o seu mandato?
Itamar - Cito Fernando Pessoa: "Firme em minha tristeza, tal vivi. Cumpri, contra o destino, o meu dever. Inutilmente? Não, porque o cumpri" (mostrando o trecho do poema afixado na parede de uma sala mais reservada do gabinete).

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