São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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Mercado espera más notícias após a eleição

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

O mercado financeiro encerrou a semana passada com duas certezas: 1) o candidato Fernando Henrique Cardoso ganha amanhã a Presidência da República, dispensando a existêncis de segundo turno; 2) se a equipe econômica do governo pretende salvar o Plano Real, medidas amargas terão de ser adotadas logo.
Às vésperas do primeiro turno, houve uma enxurrada de más notícias para o plano, todas vindas do "front inflacionário".
Entre elas, destacaram-se as seguintes: a cesta básica do Procon não parou de subir durante toda a semana –as pressões mais fortes vêm do feijão e da carne, mas não se restringem a esses produtos; os demais itens da cesta, como higiene e limpeza, também acusam repiques; insumos básicos também registraram aumentos preocupantes, o que levou o governo a reduzir a zero as alíquotas de importação de máquinas para o setor; e o comércio está se preparando para uma explosão de vendas durante o último trimestre do ano.
Aparentemente, o governo só teria duas armas de uso imediato para enfrentar o desafio do retorno da inflação: o remanejamento de alíquotas de importação e exportação, de forma a garantir o suprimento de produtos ao mercado interno; e a redução dos preços dos combustíveis. Há rumores de que essa redução será bem maior do que os 2% divulgados anteriormente.
A equipe econômica se mostra relutante em utilizar uma terceira arma, que na verdade pode ser uma faca de dois gumes: a elevação das taxas de juros. O raciocínio é o de que o consumo aquecido poderia sancionar o repasse, para os preços, do acréscimo no custo financeiro.
Tanto que outubro começará, segundo as expectativas das instituições, com movimentos contraditórios na área monetária: enquanto a inflação subirá, o juro primário efetivo deverá cair. O resultado é a queda do juro real.
Em setembro, o rendimento do over-selic (3,83%) superou em 2,29% o IPC-r de 1,51%. Este mês, embora o mercado aposte num IPC-r entre 2,5% e 3,5%, o custo básico do dinheiro deve escorregar para 3,74%, segundo os negócios fechados no CDI-over na sexta-feira, antecipando a abertura do over na terça-feira, dia 4. Para um piso de inflação de 2,5%, o juro real não passaria de 1,21%.
Na terça-feira passada, ao vender seus BBCs de 28 dias por over de 5,62%, o Banco Central já indicou que adotará neste começo de outubro uma posição conservadora, de rejeição a mudanças bruscas na política monetária.
Não se pode desprezar, contudo, a definição de uma rota de alta para os juros, em sintonia com as informações sobre o ritmo de alta da inflação.
Se persistirem as pressões provenientes dos alimentos e do aluguel, a elevação terá de ser acelerada, pois outubro é um mês curto, com apenas 19 dias úteis.

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