São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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Centro da capital do Haiti é isolado

CLÁUDIO JULIO TOGNOLLI
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Um efetivo de 5.000 homens das tropas dos EUA terminou de isolar, ontem, o centro de Porto Príncipe (Haiti) dos demais pontos da cidade.
Um pelotão de 28 tanques Sherman impede que a população da favela de Cité Soleil, onde moram 700 mil pessoas, saia da região central da cidade: está evidenciado que os norte-americanos criaram um autêntico circo romano para que a população se mate sem que as tropas intervenham.
Ontem, os helicópteros Blackhawk, que voavam numa média de 100 metros de altura, aumentaram suas altitudes, temendo tiros disparados do centro da cidade.
As mortes ocorridas anteontem numa manifestação pró Jean-Bertrand Aristide (o presidente deposto do país) trouxeram à cidade um clima de terror silencioso.
O programa de compra de armas da população, instalado pelo exército dos EUA, fracassou: apenas 25 armas foram trocadas na última semana.
Uma metralhadora israelense Uzi é comprada nesse mercado negro por mil dólares na cotação de ontem –contra os 300 dólares que as tropas dos EUA oferecem.
O coronel Barry Willey, do exército dos EUA, tem afirmado diariamente que as tropas "vão responder ao fogo quando necessário", mas não é esta a realidade.
Os soldados dos EUA têm dito aos jornalistas, extra-oficialmente, que têm ordens para não intervir nos distúrbios.
O general Hugh Shelton, comandante supremo das tropas dos EUA, tem se encontrado diariamente com o homem forte do Haiti, general Raoul Cedras, citando-o com simpatia em seus discursos.
Para conter a má impressão que a omissão das tropas dos EUA tem provocado, o porta-voz do governo americano, Stanley Schrager, tem ido à TV para dizer que "as ações terroristas demonstram o gosto pelo mal que vinha vigorando no Haiti. Estamos aqui para acabar com os terroristas e restaurar a democracia".
A próxima semana vai ser o teste para as declarações de Schrager. Militares fiéis a Cedras prometeram que, a partir de amanhã, vão a vingar o linchamento de um tenente haitiano, ocorrido anteontem.

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