São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994 |
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Americanos fabricam os seus tênis em toda parte THE NEW REPUBLIC SALLY TISDALE
Comecei a procurar tênis. Eu pegava um tênis aerodinâmico atrás do outro e lia as pequenas etiquetas escondidas em seu interior: "Made in China". "Made in Korea". "Made in Indonesia". "Made in Thailand". Alguns anos atrás as práticas trabalhistas da Nike no exterior vieram a público e o pequeno escândalo que se seguiu tornou claro que as operações estrangeiras de vários fabricantes americanos de tênis deixam muito a desejar. Meus Reeboks foram fabricados na Coréia e eu prometi a mim mesma que meu próximo par de tênis seria produzido nos EUA. Comecei a pedir tênis fabricados nos EUA aos balconistas. Os poucos que não ficaram confusos com meu pedido me disseram que não existe tênis fabricado nos EUA. Telefonei para a Nike e falei com o responsável pelo atendimento aos clientes. Quando expliquei meu problema, ele me respondeu que a empresa "ainda está manufaturando na Indonésia e vários outros países da região". "Você sabe se os trabalhadores de alguma dessas fábricas são sindicalizados?", perguntei. Houve um pequeno silêncio. Finalmente ouvi a resposta: "Nem sei se existem sindicatos na Indonésia". Liguei para a sede da L.A. Gear, em Santa Monica. "Quero informações sobre os tênis que vocês produzem", eu disse à moça no setor de atendimento aos clientes. "São fabricados nos EUA?" "Fabricados aqui?" Espantada, ela me explicou que seus tênis são produzidos no Brasil e na Ásia. Bill Krenn, gerente de relações públicas dos sapatos K-Swiss, retornou minha ligação mas me interrompeu antes que eu pudesse concluir minhas perguntas. "Não fornecemos informações sobre a produção", disse. "Só posso dizer que é realizada no exterior". A maioria dos operários que produzem sapatos no sudeste asiático são adolescentes e mulheres jovens. Eles trabalham 15 a 16 horas diárias, num infindável trabalho por tarefas separadas. Muitas das mulheres vivem em alojamentos, separadas de suas famílias; em alguns casos são virtuais prisioneiras, proibidas de deixarem as instalações da fábrica sem um passe especial. O salário mínimo na Indonésia é hoje de US$ 1,80 por dia. Telefonei para a Nike mais uma vez, na condição de jornalista. Conversei com Keith Peters, diretor de relações públicas da empresa. Entre longos silêncios, ele me disse que não é "economicamente viável" para a Nike fabricar seus sapatos nos EUA. Por fim liguei para a New Balance e falei com Catherine Shepard, do departamento de relações com a imprensa. Ela disse que 70% dos tênis são fabricados nos EUA; o resto, na Europa e Ásia. Os trabalhadores da New Balance não são sindicalizados, mas recebem entre US$ 10 e US$ 12 por hora de trabalho, além de prêmios e benefícios extras. "Pretendemos produzir 100% de nossos tênis aqui nos EUA", ela me disse. Depois Shepard me contou a má notícia. O tênis feminino mais adequado às minhas necessidades é um dos fabricados na China. Tradução de Clara Allain Texto Anterior: Freira brasileira relata horror e ameaças Próximo Texto: Judeus dos EUA estão em crise Índice |
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