São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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UMA BRANCA DE NEVE MODERNA

COSETTE ALVES

Aos 6 anos, Cláudia Raia era um patinho feio, mas subiu na passarela e virou top model mirim. Aos 9, torrou a verba do curso de inglês em um vestido de paetês. Aos 27, ela degusta o sucesso de "Nas Raias da Loucura" dançando, cantando e sapateando sobre a maldição do espelho
Por Cosette AlvesCena 1 - A infância de Branca de Neve
Era uma vez uma menina branca como a neve, com olhos e cabelos negros como a noite e lábios vermelhos como uma rosa. Seu nome era Maria Cláudia Mota Raia. Ao nascer, sua mãe, Odete Mota Raia, tinha 45 anos. "Não era mais tão paciente, como quando minha irmã mais velha, Holenca, nasceu."
Cláudia Raia perdeu o pai aos 4 anos. Lembra dele com carinho. "Era um homem bonito, um superexecutivo, mesmo não sendo um artista, era fantástico. Quando meu pai morreu, mamãe já tinha uma academia de dança enorme, com dez filiais pelo interior de São Paulo. Empresária da dança e das artes. Disciplinada, superexigente, nunca mais se casou. Viveu para as filhas e para seu trabalho."
A vontade de subir no palco e ser estrela vem do berço. E as histórias da infância comprovam a vocação.
"Minha irmã era a linda que todo mundo adorava. Eu era feia, magricela, chata nariguda, toda ruim e a caçula. Tudo era difícil para mim", conta Cláudia. Mas, persistente, vencia pelo cansaço: "Uma vez, minha mãe estava promovendo um desfile, lá em Campinas. Eu era supermetida, queria aparecer. Nesse desfile, minha irmã, Holenca, era a estrela absoluta. Eu cutucava minha mãe: por que não posso desfilar? `Porque não tem roupa de criança no desfile, Cláudia'. Fui à Casa Veip, uma loja de roupa infantil da cidade. E expliquei: sou filha da Odete Mota Raia. Queria que vocês me emprestassem umas roupas, porque vai ter um desfile no Cultura Artística, mas só tem roupa de adulto. Eu quero desfilar. A dona da loja deixou que eu escolhesse tudo o que quizesse. Produzi meu guarda-roupa do desfile: sapatos, meias e até brincos. Tinha 6 anos. Peguei todo o figurino, botei numa caixa, peguei um táxi e fui para o teatro. Chegando, falei com minha mãe: a senhora disse que não tinha roupa de criança, mas tem. Pode me inserir. A Holenca tem seis entradas, também quero seis. Vendi todas as roupas do desfile e virei top model da Casa Veip. Fazia até foto."
Aos 6 anos, já começava a viver o espetáculo que mais tarde encenaria: "Não Fuja da Raia". Cláudia percebeu cedo que, para entrar em cena, precisava ousar e conquistar. E continua conquistando o Brasil com sua voz, sua dança e sua alegria.
Menina, inconsciente de sua beleza, desenvolveu o talento. "Vou contar uma história que até mamãe desconhece. Eu fazia inglês. O motorista me levava na escola. Um dia, fui a pé. Minha mãe me deu um cheque para pagar o básico de inglês. Andando na rua, vi numa vitrine um vestido lindo, preto, de paetês. Vestido de mulher. Tinha 9 anos e era uma pulga, magra, horrível! O preço era, digamos, dez reais abaixo do valor do cheque. Eu queria porque queria comprá-lo. A vendedora disse que não era para criança. Insisti para que ela o arrumasse no meu corpo. Ela resistia, dizendo que daria um trabalho enorme, que custaria dez reais para fazer o conserto. Exatamente o valor do cheque. Pensei no inglês, nos paetês e decidi. Comprei o vestido. Paguei com o cheque e fui para a aula."

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