São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Lula agradece a Deus e culpa a televisão

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Lula saiu-se com a declaração padrão dos jogadores derrotados, ontem na televisão:
– O processo eleitoral é a coisa mais rica do mundo. Só tenho que agradecer a Deus por ter me dado a oportunidade de participar.
Foi de manhã, quando votou. Mas não demorou e o jogador saiu culpando o juiz. Não só Lula, mas os petistas de toda parte.
Em São José dos Campos, no registro da Globo, fiscais petistas chegaram a pedir à Justiça a troca das carteiras usadas na votação, por deixarem impressos os votos anteriores, como carbono.
Além das carteiras, foram alvo dos petistas as próprias televisões, como a Bandeirantes. O partido entrou com representação contra a rede, em Brasília, argumentando que privilegia o favorito.
A representação teve um efeito imediato, fazendo com que a rede cortasse uma entrevista ao vivo com Fernando Henrique.
Logo a Bandeirantes, única que seguiu Lula do café-da-manhã até o momento de votar, enquanto as demais fixavam-se no tucano.
Culpar as carteiras, a televisão, o juiz, este por não ter reprimido mais: Lula fecha outra eleição à cata de desculpas para si mesmo.
Para o mundo
Até mesmo a CNN passou o dia acreditando que o tucano venceria a eleição brasileira no primeiro turno, por conta do real.
Foi o que a rede transmitiu ao mundo, em flashes o dia inteiro, tanto em sua versão internacional como na regional.
Fernando Henrique Cardoso, nos flashes, foi sempre descrito como um ``social-democrata de centro-esquerda". Não deixa de ser surpresa, já que as expressões foram banidas durante a campanha pelo próprio candidato.
Por outro lado, a CNN mundial tratou de chamar atenção para os próximos passos de um governo Fernando Henrique, confirmada a eleição. Sublinhou uma promessa do candidato de que vai ``abrir o mercado brasileiro" ao mundo.
Depois das eleições
Ciro Gomes já estava voltando ao seu normal, ontem em televisão e rádio. Ele ``se mostrou irritado" com a possibilidade de aumentos pós-eleitorais nos preços, o que tratou por ``canalhice".
Garantiu que o governo guarda alternativas para reagir contra os preços, ``duramente". Adiantou uma delas dizendo que pode abrir mais as importações.
``Canalhice", ``duramente" etc. Ciro Gomes nem lembrava o político calmo e quieto de dias atrás, incapaz de fazer marolas que abalassem candidaturas.
Faroeste
As manchetes, nos telejornais, só falavam em tranquilidade, em festa ou em calma, nas eleições. Também Sepúlveda Pertence, em sua cadeia nacional.
Mas o faroeste correu solto no país, como mostraram as próprias televisões, nos flashes:
Na sequência, anunciou-se que no Maranhão dois presidentes de seção eleitoral foram presos por distribuir cédula falsa.
No Ceará, mais cédulas falsas, e preenchidas. Em Pernambuco, caminhões levavam os eleitores. Novamente em Alagoas, quatro seções foram fechadas.
E no Rio, no final da tarde, um tiroteio em favela não chegou a afetar a votação. É o cotidiano.

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