São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Empresários vão exigir reformas imediatas

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO ; ANDREW GREENLEES
EDITOR DO PAINEL

ANDREW GREENLEES
A vitória de Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno deixa otimistas os empresários, mas também apressa o fim da lua-de-mel que adiava cobranças por parte de seus apoiadores.
Entidades empresariais como Fiesp, CNI e Sociedade Rural Brasileira planejam pressionar desde já o virtual presidente eleito pelas reformas que consideram essenciais.
Presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, Abram Szajman reforça esta idéia. Diz que as reformas têm que ser feitas logo no começo do governo, enquanto ele tem força. ``Depois, não faz mais", prevê.
Szajman compara: ``Tem que pegar fogo no breu logo no começo para o balão subir, depois, com as reformas feitas, pode até cair".
Emerson Kapaz, coordenador do PNBE, vê um problema anterior à aprovação das reformas. Acha que FHC ``não pode perder a chance dada pela vitória no primeiro turno para fazer uma composição que priorize um governo social-democrata".
Ele prega que FHC se aproxime dos ``setores moderados do PT". Kapaz prevê que, sem articulação com a sociedade civil organizada, o governo não conseguirá atender as demandas sociais que nascerão da estabilização da economia.
Segundo o ex-ministro da Fazenda e consultor de empresas Mailson da Nóbrega, as prioridades empresariais são as reformas tributária e previdenciária, além da aceleração da privatização.
Mailson diz que, neste momento, seria contraproducente os empresários defenderem um ``emendão" com todas as suas propostas. Pontos polêmicos, como o fim da estabilidade do funcionalismo, devem ser adiados para não impedir a aprovação do essencial.
Os empresários querem impostos mais simples e em menor número, além de um alívio na tributação das exportações. Quanto ao seguro social, defendem uma garantia mínima para salários mais baixos e, a partir daí, uma previdência complementar privada.
Além destas prioridades, a Fiesp quer reavaliar o papel do Estado, fortalecer o mercado e reformar o sistema eleitoral e partidário.
Trabalhando com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Fiesp pretende procurar FHC o mais cedo possível. A razão básica para esta cobrança imediata das reformas está na avaliação de que, sem elas, o real não se sustentará. É o fim do que já foi batizado de ``conspiração do silêncio".
Há vários setores –como o de exportação, que está sofrendo com a defasagem do dólar em relação ao real– incompatibilizados com algumas medidas do plano econômico, mas que não reclamavam com medo do resultado da eleição.
Mesa de pôquer
Em reunião recente de empresários pesos-pesados, um deles criou uma imagem: ``Estamos jogando pôquer e há na mesa um sujeito barbudo e armado. O melhor é esperar até ele sair do jogo. Aí é que virão as cartadas decisivas".
Luiz Inácio Lula da Silva perdeu a eleição e saiu da mesa. Agora começarão a vir a público as reivindicações dos demais jogadores.
Mesmo satisfeito com a vitória de FHC e esperando que ele implante nova política agrícola no país, o presidente da Sociedade Rural Brasileira, Roberto Rodrigues, prevê uma ``cadeia imediata de cobranças" ao eleito. Rodrigues assinala, por outro lado, que seu setor já vem apresentando suas reivindicaões ao atual governo.
Diz que o real é ótimo, neste primeiro momento, para os produtores rurais argentinos e uruguaios, que nunca exportaram tanto para o Brasil: ``Nossos armazéns vão lotar". A consequência, segundo ele, é que não haverá lugar para estocar a safra brasileira que está sendo plantada agora.
Além disso, o governo ainda não sinalizou quanto destinará para financiar a colheita da safra de 95. E o plantio depende destes sinais. ``Quem está plantando é o Itamar, mas quem vai colher é o Fernando Henrique", adverte Rodrigues.

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