São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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PSDB busca novo líder para PT

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT pode não estar pensando nisso, mas no PSDB procura-se um novo Lula para o PT.
A avaliação obtida pela Folha junto ao círculo íntimo de Fernando Henrique é a de que Luiz Inácio Lula da Silva perderá expressão política em função da previsível segunda derrota eleitoral consecutiva.
Como há interesse em ter o PT perto do futuro governo -ou até, se possível, dentro dele- os tucanos olham para o partido de Lula em busca de lideranças alternativas.
Pode ser um trabalho inútil. A entrevista que o candidato petista deu à Folha demonstra uma disposição firme para permanecer no cenário político, mesmo perdendo.
``No Brasil, nem saindo do governo como ladrão, a pessoa encerra a carreira política (...). Se nem a corrupção consegue tirar alguém da política brasileira, muito menos uma derrota eleitoral", disse Lula.
Essa disposição contradiz, em todo o caso, a visão de inúmeros petistas de grosso calibre que, sob a proteção do anonimato, dizem duvidar que Lula seja candidato em 1998.
Se essa tese estiver correta, é óbvio que o PT começará desde já a procurar uma outra liderança que possa carregar a estrela vermelha em 1998.
Nesse ponto, há coincidências entre petistas e peessedebistas. Uma delas: fortalece-se o cacife dos petistas gaúchos ante a perspectiva de que o Rio Grande do Sul será o único Estado em que Lula vencerá.
Ainda mais se Olívio Dutra, o candidato do PT ao governo local, conseguir ao menos forçar um segundo turno contra Antônio Britto (PMDB).
Olívio é ``um irmão" de Lula, conforme o próprio Lula repete sempre, o que o transforma em herdeiro preferencial.
Tarso Genro, prefeito de Porto Alegre e, por sua vez, herdeiro de Olívio, sobe junto na bolsa de especulações de petistas e peesedebistas.
O problema é que, no círculo mais íntimo de Lula, a avaliação é diferente. O abatimento que ele mostrou após a derrota de 1989 não existe desta vez.
O próprio Lula admite hoje que errou ao deixar-se abater após a derrota para Fernando Collor. Emir Sader acha que agora Lula não sofrerá da ``síndrome de Zico", ao contrário do que ocorreu em 89.
É uma alusão ao fato de que Lula perdeu um pênalti decisivo (como Zico na Copa de 1986) no segundo debate com Collor. Agora, o PT acha que não houve pênalti perdido e, por extensão, não há razão para síndrome alguma. Parece cedo demais para começar a procurar um novo Lula.

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