São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Lula acordou preparado para derrota

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Assim como faz há um mês, Luiz Inácio Lula da Silva acordou ontem preparado para perder pela segunda vez a eleição para a Presidência da República.
Lula acredita em pesquisas, apesar do discurso oficial petista levantar dúvidas sobre a lisura dos levantamentos de opinião.
As pesquisas divulgadas ontem arrefeceram o entusiasmo que Lula ensaiou algumas por instantes nos últimos dias ao observar a volta da militância petistas às ruas.
Lula amanheceu calmo, brincando com os filhos e com os poucos amigos que tiveram acesso à sua casa, em São Bernardo do Campo (região metropolitana de São Paulo).
A avaliação atual de Lula é que, embora o partido possa ter cometido erros na campanha, a força do real tornou quase impossível a reversão da curva favorável a Fernando Henrique Cardoso.
A mágoa com o tratamento da mídia à campanha presidencial continua presente em Lula. O candidato acha mesmo que a aceitação do real tem muito a ver com a abordagem que os veículos de comunicação deram ao tema.
Na conversa com seu candidato a vice, Aloizio Mercadante, Lula afirmou que ``fizemos o que pudemos".
Na cerveja tomada com seu vice, Lula voltou a classificar de desleal a distribuição, patrocinada em alguns lugares pelo PSDB, de cédulas que o colocavam em posição diversa da adotada no modelo oficial.
Para o almoço, o assessor de imprensa Ricardo Kotscho levou para a casa de Lula uma leitoa para assar.
Em todos os momentos da manhã e da tarde, Lula manteve a serenidade, aceitando a derrota com naturalidade.
Em 89, após o triunfo de Collor no segundo turno da eleição presidencial, Lula mergulhou durante algum tempo numa depressão que assustou os petistas mais próximos.
Entre os muitos telefonemas que recebeu, Lula preferiu os que vinham do Rio Grande do Sul. Anteontem à noite e ontem antes de sair para votar, o candidato petista conversou com Olivio Dutra, que disputa o governo gaúcho pelo partido.
Lula tem em Dutra um conselheiro de todas as horas. O ex-prefeito de Porto Alegre é, entre todos os candidatos estaduais do PT, o mais amigo de Lula.
A possibilidade de Dutra, principalmente, e de Vitor Buaiz (ES) e Cristovam Buarque (DF) chegarem ao segundo turno ajudaram Lula, pelo menos por enquanto, a encarar o momento político com menos dor do que em 89.
O candidato do PT à Presidência acha que, se chegar ao poder num estado importante como o Rio Grande do Sul, o PT pode começar a superar o estigma de inexperiente na administração.
Nos diálogos com os amigos nos últimos dias, Lula tem procurado transmitir que, mesmo com a derrota de sua candidatura, o PT consolida-se como um partido de porte nacional.
O raciocínio de Lula é que a representação parlamentar do partido deve dobrar, sem contar a possibilidade de chegar a três governos estaduais.
Dutra, Buaiz e Buarque estão entre os petistas mais admirados por Lula, que pensa em participar ativamente da campanha dos três caso ocorra segundo turno em seus Estados.
A tranquilidade de Lula durante o dia afastou dos amigos mais próximos o temor de que a derrota no primeiro turno pudesse levar o candidato a algum gesto extremo, como por exemplo anunciar que não pretende mais disputar cargos majoritários.

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