São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Enéas conquista votos da ultradireita

FERNANDO DE BARROS E SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 06/10/94

O crédito correto da foto do candiadato Enéas é de Frederico Rozário e não Alexandre Campbell.
O cardiologista Enéas Carneiro deixou de ser apenas o candidato bizarro que na eleição de 89 catalisou o voto de protesto dos que queriam, antes de tudo, escarnecer da política e dos políticos.
Agora, caso confirme nas urnas o terceiro lugar que lhe atribuem as pesquisas, pode se viabilizar como reserva eleitoral de ultradireita para disputas futuras.
Não é pouco para quem há poucos meses era um aventureiro desprezível. À frente de um partido nanico, o Prona (Partido de Reedificação da Ordem Nacional), o candidato deixa para trás Orestes Quércia (PMDB), Leonel Brizola (PDT) e Esperidião Amin (PPR).
Como explicar o fenômeno? Enéas se beneficiou do ``voto cacareco"? (Cacareco era o nome de um rinoceronte do zoológico de São Paulo que foi muito votado em eleições municipais no fim da década de 50). Ou, antes, o candidato do Prona foi adotado pelo eleitorado de direita, que se viu órfão diante dos demais candidatos?
Muito provavelmente um pouco de cada coisa. Essa é pelo menos a interpretação de intelectuais habilitados a opinar sobre o assunto.
O cientista político Francisco Weffort, ex-secretário-geral do PT e professor titular da USP, atribui a votação de Enéas a ``uma mistura de cacareco com um certo mal-estar que leva as pessoas a buscarem opções de direita".
Segundo Weffort, Enéas atrai o mesmo eleitor que opta por Romeu Tuma (PL-SP) para o Senado e escolher o general Newton Cruz (PSD) para o governo do Rio.
Posição semelhante tem o sociólogo Leôncio Martins Rodrigues, professor titular da USP e da Unicamp. No início, diz Leôncio, ``era um voto cacareco".
Aos poucos, prossegue, ``foi se transformando num voto de direita, antipolítico, antipartidário, como uma opção de segmentos do eleitor de escolaridade elevada".
É no eleitorado de maior renda e maior escolaridade que o candidato do Prona tem mais adeptos, segundo pesquisa do Datafolha.
Enéas é preferido por 8% dos eleitores de nível superior e 4% daqueles que cursaram até o primeiro grau. É escolhido por 7% daqueles que ganham mais de dez salários mínimos e 5% dos que recebem menos de cinco salários.
Nem Weffort nem Leôncio dizem estar certos de que Enéas se transforme em opção duradoura. ``Falta a ele o perfil. É careca, barbudo. A direita gosta de gente mais engomada", brinca Weffort.
Seja como for, Enéas já é vitorioso. Lançando mão de um estilo teatral e adotando um discurso empolado, a um só tempo ultranacionalista e raivoso, o candidato exibe traços que o aproximam dos líderes de inpiração fascista.
Ainda é uma incógnita se conseguirá se firmar com essa imagem ou se está condenado a permanecer como aberração do conservadorismo em períodos eleitorais.

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