São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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FHC quer evitar negociação de cargos

MARIO VITOR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Henrique Cardoso deseja montar um governo de especialistas, vinculados diretamente à pessoa do chefe do Executivo.
Se puder, vai evitar a distribuição de posições ministeriais entre partidos que o apoiaram.
Se depender dele, nem mesmo o PSDB verá contemplada senão uma pequena parte de suas pretensões políticas.
FHC já deu pelo menos três indicações a respeito do novo gabinete. Disse que vai ``surpreender", que vai montar um ministério com ``doze Jatenes" e que não vai haver loteamento.
Em torno do gabinete presidencial no Planalto ele quer os dois maiores colaboradores na campanha eleitoral: o amigo, empresário e secretário-geral do PSDB Sérgio Motta e o ex-reitor da Unicamp e coordenador do programa de governo Paulo Renato de Souza.
Cardoso diz que a frente para sua eleição foi formada exclusivamente em torno de um programa.
Segundo esse raciocínio, a única responsabilidade do virtual presidente eleito para com a frente de partidos que o apoiou seria a execução desse programa.
Mesmo a continuidade de Ciro Gomes na Fazenda é dada como incerta. Gomes tem vôo político próprio, o que contraria o perfil mais operacional-administrativo que FHC quer ver encarnado nos ministros de fora do Planalto.
Edmar Bacha e Pedro Malan são, assim, mais cotados. José Serra, candidato a senador, tem chances limitadas pelo difícil relacionamento com Tasso Jereissati e Ciro Gomes, o mesmo que acha que seria vetado por Serra para o mesmo cargo.
Fernando Henrique prefere Ciro Gomes no comando do Programa Comunidade Solidária, que terá R$ 4 bilhões para aplicar em combate à pobreza.
Gestões em favor do nome do embaixador em Washington, Paulo Tarso Flecha de Lima, já chegaram ao comando da campanha tucana, mas o virtual presidente eleito prefere no Itamaraty Luiz Felipe Lampréia, chefe da delegação permanente em Genebra.
É tida como certa a ida do ex-ministro da Indústria e Comércio, José Eduardo de Andrade Vieira, para o Ministério da Agricultura. Vieira foi o representante do PTB no comando da campanha.
Na Saúde, a chance maior é de que o cirurgião Adib Jatene seja chamado a retornar. Nélson Jobim é o mais cotado para um Ministério da Justiça mais voltado para a segurança pública e o combate à impunidade.
Se houver unificação das pastas militares num Ministério da Defesa, Fernando Henrique inclina-se para a indicação do general Benedito Onofre Bezerra Leonel, chefe do Estado-Maior do Exército.
Bezerra Leonel é o principal defensor da idéia da pasta da Defesa dentro das Forças Armadas e amigo de Fernando Henrique.
Dificilmente FHC deixaria de dar um Ministério importante para Pimenta da Veiga, presidente do PSDB e membro da direção da campanha. Ele pode ir para a Casa Civil. Na área do PFL, Gustavo Krause e Luís Eduardo Magalhães são os preferidos. Outro que também deve ser convidado, no mínimo para um cargo importante de assessoria, é o filósofo José Arthur Gianotti, amigo de FHC há mais de 30 anos.
Para justificar um gabinete orientado por suas preferências, Fernando Henrique argumenta que a vitória tem a marca do triunfo pessoal. Considera que o principal eleitor foi o Plano Real, resultado de iniciativa e risco seus.
Lembra que foi ele pessoalmente quem se empenhou no corpo-a-corpo da aprovação do Fundo Social de Emergência no Congresso, medida considerada impopular quando foi apresentada.
Diz que nos primeiros meses de campanha era considerado pelos aliados –que em boa parte se juntaram a ele, dentro e fora de seu partido, por falta de alternativas– como candidato ruim de voto, com escassas chances de vir a vencer.
Com o virtual triunfo no primeiro turno, a engenharia ministerial imaginada por Fernando Henrique pode vir a se tornar realidade. No caso de uma disputa no segundo turno, novos aliados teriam que ser atraídos, o que envolveria inevitavelmente a negociação de postos ministeriais. Aquilo que pareceria negociação desesperada de votos, pode agora virar gesto magnânimo. FHC pode até convidar o adversário Lula a participar de seu governo.

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