São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'República' de Vilaboim chega ao poder

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de nascido no Rio, Fernando Henrique Cardoso leva para Brasília, ao assumir a Presidência, toda uma série de símbolos, hábitos e nomes da cultura paulistana.
Radicado em São Paulo desde 1942, aos 11 anos, o virtual presidente eleito construiu na cidade a sua rede básica de relações pessoais, acadêmicas e políticas.
Com Fernando Henrique no Planalto, três palavras bem conhecidas dos paulistanos devem ganhar status de celebridades nacionais: Vilaboim, Ibiúna e Cebrap.
Desde os anos 70, FHC mora em um apartamento na rua Maranhão, em Higienópolis (região central da cidade). Como a maioria dos vizinhos de bairro, é frequentador assíduo da praça Vilaboim, a duas quadras de sua casa.
Com evidente exagero, os moradores do bairro acham que a praça Vilaboim está para Higienópolis assim como a place des Vosges está para o Marais, em Paris.
Com exceção do restaurante Nabuco, de propriedade de notórios peemedebistas, toda a praça ``sobe" ao poder com FHC.
Em torno da praça fica o restaurante Café Romano, um dos preferidos de Fernando Henrique, a banca de jornais onde ``todo mundo" faz as suas compras dominicais e a padaria Barcelona, uma das mais badaladas da cidade.
Além da praça Vilaboim, a cidadezinha de Ibiúna (70 km a oeste de São Paulo) entra definitivamente para a geografia do país.
Ter uma casa ao redor da represa de Ibiúna há muito é símbolo de status –agora, passa a ser sinal de vizinhança com o poder.
É na sua casa de campo em Ibiúna que FHC se recolhe para descansar e jogar pôquer com os amigos Pedro Paulo Popovic, Boris Fausto e Lúcio Kovarick.
A terceira palavra que, com a eleição de FHC, sai do círculo dos iniciados para cair na boca do povo é, na verdade, uma sigla: Cebrap (Centro Brasileiro de Análise de Planejamento).
A instituição, que Fernando Henrique ajudou a fundar em 1969, é um celeiro de intelectuais amigos que seguramente vão colaborar, formal ou informalmente, com o governo.
Além da antropóloga Ruth Cardoso, mulher de FHC, e do filósofo José Arthur Giannotti, amigo de longa data, também são cebrapianos próximos ao virtual presidente eleito a demógrafa Elza Berquó e o sociólogo Vilmar Farias.
Nos últimos cinco anos, o Brasil teve dois presidentes de gostos radicais –e duvidosos.
Collor era apaixonado por badulaques como jet ski, telefone celular e gravatas Hermès.
Itamar procurou ser o antípoda do antecessor, apegado a coisas simples, ``do povo", como samba, Fusca e um chopinho gelado.
Com FHC o país deve ganhar um governante de hábitos considerados um pouco mais sofisticados (veja quadro acima).
Fernando Henrique declara gostar de música clássica, vinhos franceses, do filósofo italiano Norberto Bobbio e, não se pode esquecer, de buchada de bode.

Texto Anterior: FHC quer evitar negociação de cargos
Próximo Texto: Grupo de transição acompanha Real
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.