São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Grupo de transição acompanha Real

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma espécie de cogoverno entre as equipes de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso se iniciará logo após a eleição, mas não tende a produzir nada de impacto até a posse.
FHC ainda não escalou a equipe que fará a transição em seu nome, mas tudo indica que seu coordenador será Paulo Renato Souza, que foi coordenador do plano de governo do virtual vencedor.
Os interlocutores mais frequentes e diretos, pelo lado de Itamar Franco, serão os integrantes da equipe econômica, pelo óbvio motivo de que só na administração do Plano Real serão feitos ajustes.
Nas demais áreas, qualquer iniciativa ficará inevitavelmente transferida para o futuro governo.
Mesmo na economia, no entanto, o grupo FHC e a atual equipe econômica coincidem em afirmar que o plano necessita apenas ``sintonia fina", sem reajustes de maior monta.
As duas equipes exprimem idêntica confiança em que a inflação ficará sob controle até o final do ano, o que contraria previsões externas ao governo.
O economista Gil Pace, por exemplo, tido como especialista em índices inflacionários, imagina até 4,7% de inflação em dezembro, muito acima do previsto pela Fazenda.
O ministro Ciro Gomes admite um leve repique da inflação em outubro. O índice subiria do 1,5% de setembro para em torno de 2%.
Mas acha que não há risco de descontrole em novembro e dezembro, mesmo com o habitual aquecimento da demanda em consequência do Natal.
O ministro imagina que a redução das tarifas de importação será suficiente para que não ocorra falta de produtos, hipótese em que os preços naturalmente subiriam.
Medo da seca
Na equipe FHC, no entanto, o temor mais recente não é uma corrida às compras natalinas, mas a seca. Se persistir, terá consequências imediatas, mas também de médio prazo, sobre a agricultura e a pecuária.
``Mas, aí, nada há a fazer, a não ser promover o impeachment de São Pedro", brinca Paulo Renato.
Já na área de importações, a equipe econômica atual acredita que há, sim, algo a fazer. Considera tarefa para esse final de gestão promover uma limpeza nas barreiras não-tarifárias para importações, após a redução nas tarifas.
No fundo, trata-se mais de desregulamentar o setor, hoje carregado de normas até esotéricas. Vinho, por exemplo, só pode ser importado em determinado tipo de vasilhame. Pneus têm que incorporar em parte borracha nacional, tida como de má qualidade.
Na área cambial, a idéia, já antecipada pela Folha, é introduzir mecanismos de restrição à entrada excessiva de capitais externos, de forma a evitar que a oferta exagerada derrube mais a cotação da moeda norte-americana.
Mas a grande tarefa do período de transição será elaborar os projetos de reformas estruturais a serem submetidos ao novo Congresso.
Um deles está praticamente pronto. Trata-se da proposta do deputado Nélson Jobim (PMDB-RS) para a Previdência. Faltam apenas detalhes, como definir a partir de que nível salarial o contribuinte passa para a Previdência privada.
Na reforma tributária, ao contrário, a equipe econômica acha que todos os projetos existentes reduzem a carga fiscal, quando a intenção é ampliá-la em dois ou três pontos percentuais (hoje é de cerca de 24% do Produto Interno Bruto, medida da renda nacional).
Quanto à redefinição de funções da União, Estados e municípios, há um estudo de Raul Jungman, do Ministério de Planejamento, que é considerado a base para o projeto definitivo a ser enviado ao Congresso.

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