São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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O papel da imprensa

LUÍS NASSIF

Terminadas as eleições, a imprensa passará a enfrentar o maior desafio de sua história. Está em suas mãos romper o secular pacto das elites, e implantar definitivamente a modernidade no país.
Até alguns anos atrás, a própria imprensa era parte e beneficiária dessa cumplicidade ampla e irrestrita. À medida que o mercado de consumo amadurecia e prevalecia sobre a economia estatal, a imprensa foi a primeira instituição a romper com esse pacto e se constituir em fator decisivo de modernização do país.
Mesmo assim, há muito a caminhar. Houve pânico desnecessário no período da URV, e uma apologia incompreensível nos primeiros meses do Real. Não se vá voltar ao pânico nas próximas semanas, com as pressões de preços e de contas públicas que advirão.
Nem o país estava salvo em julho nem estará perdido até o final do ano.
Caberá à imprensa comportar-se com senso de responsabilidade e objetividade, para não espalhar o pânico e convencer definitivamente a opinião pública de que mudanças de moeda, sem as reformas, são manipulações irresponsáveis. Com determinação e com reformas, salva-se o plano e melhora-se o país.
Sem folga
Fernando Henrique Cardoso não pode ter um instante de folga, sob pena de não se encaminhar nenhuma dessas reformas.
Não se aceite o estratagema que certamente adotará –porque faz parte de sua personalidade–, de transferir responsabilidades, de não tomar decisões porque a modernização é um ``processo" que não pode ser contaminados pela interferência individual de quem quer que seja.
É conversa mole. Ele foi eleito para encaminhar soluções, não explicações. E daqui para diante não mais terá Itamar como álibi para sua abulia.
O país mudou fantasticamente nos últimos anos. Houve a reconquista do amor próprio, o fim do acomodamento, a busca da inovação, um entusiasmo que perpassa todos os cantos do Brasil real. Tudo isto foi conquistado pela ação individual de cada brasileiro, de cada empresa, de cada trabalhador e de cada cidadão quando a abertura e a crise política reduziram a tutela do Estado sobre o país.
Caberá a esta nova opinião pública, expressa pela imprensa, incutir nos políticos o senso de responsabilidade para com o país, permitindo enterrar o defunto insepulto desse modelo político.

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