São Paulo, quarta-feira, 5 de outubro de 1994
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Exposição traz desenhos de Lizárraga

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Antonio Lizárraga faz 70 anos em novembro e, com exceção de Iberê Camargo (1914-1994), nunca se viu artista brasileiro septuagenário tão inquieto quanto ele.
A exposição de 30 ``desenhos com relevo" que a galeria Mônica Filgueiras abre hoje é demonstração de que a pesquisa visual a que Lizárraga se propõe é inesgotável –simplesmente porque sua inventividade é inesgotável.
Ao contrário de outros artistas da geração dos anos 50 e 60, que praticaram o concretismo e o minimalismo, Lizárraga depois não abandonou a pesquisa gráfica. Continuou, abnegado, a extrair dela riquezas insuspeitadas.
O segredo está no seguinte: Lizárraga não se limita a fabricar efeitos ópticos, que ficam se divertindo com a alternância figura/fundo –como naquela imagem exemplar da Gestalt em que a forma ora assume o contorno de uma taça, ora a de dois perfis opostos. Vai muito mais além, entre outros motivos porque sabe o que está em questão nesses trocadilhos ópticos.
Explicando. O olhar costumeiro está tão condicionado a esperar que o jogo de formas seja completo, que o que é tirado aqui seja retribuído mais adiante, que a argúcia de Lizárraga está em justamente criar essa expectativa e nunca preenchê-la. Não se limitar ao jogo apenas ambivalente de certo concretismo e da op art.
Assim, na atual exposição, o olho do observador vai passeando pelos elementos distribuídos sobre o papel quadriculado, em dinâmica serial. A novidade nesses desenhos inéditos é que a dinâmica agora inclui volumes. E estes são acordes imperfeitos: o olho espera que os elementos em relevo tenham o mesmo número de camadas de papel, mas nunca têm.
O relevo, desta vez, faz o mesmo trabalho que a cor na pintura de Lizárraga: dá expressividade à composição minimalista, agora pela via táctil. Com essa estratégia, a pesquisa visual de Lizárraga, ainda que seja ``só uma pesquisa" –e ele é o primeiro a dizer isso–, ganha sugestões maiores.
Para fazer referência ao título da exposição, poderia se dizer que essas sugestões implicam a crítica do costume, do hábito, que faz esquecer a fragilidade das sensações humanas, constantemente enganadoras –como todos percebemos, embora só em momentos de crise.
Mas Lizárraga não é um artista conceitual; sua arte é um enigma sem charada, é desprovida de função. Ali, no entanto, sempre há um resíduo de vida, indeclarado, mas óbvio, como um diário frívolo em que se vê a frivolidade que é o legado de nossa miséria.
Exposição: Frágil Sobre Frágil
Artista: Antonio Lizárraga
Onde: Mônica Filgueiras Galeria de Arte (al. Ministro Rocha Azevedo, 927, tel. 011/282-5292, Jardins, zona sul de São Paulo)
Quando: abertura hoje, às 20h; até 29 de outubro
Visitação: de segunda a sexta, das 11h às 19h; sábados, das 10h às 13h
Quanto: R$ 700 cada desenho

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