São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994
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Ciro tenta mostrar que importação compensa

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Fazenda, Ciro Gomes, e a equipe econômica estão fazendo pesado esforço de propaganda para vender a idéia de que a importação é um bom negócio para a maioria da população, ainda que seja ruim para determinadas setores econômicos.
A abertura da economia e, pois, o aumento das importações formam parte essencial do Plano Real. Mas a importação fere interesses estabelecidos das indústrias e dos sindicatos de trabalhadores.
O lobby desses interesses sustenta que a importação elimina empregos brasileiros ao fechar empresas locais por falta de condições de competir com os importados.
A argumentação sugere que é melhor pagar mais caro por um produto nacional que gerou emprego aqui do que pagar barato por algo que gera emprego na China.
O argumento tem enorme peso político. Vem sustentado ao mesmo tempo pela Fiesp e pela CUT.
É verdade que a abertura da economia tornou-se uma tese tão forte, no mundo todo, que ninguém mais a contesta de frente. A oposição vem pela ressalva. Diz-se que a abertura é boa, mas precisa ser controlada, em fases, com exceções para proteger alguns setores.
A lista de ressalvas fica tão ampla que elimina o principal.
A equipe econômica pensa bem diferente: a abertura é fundamental e urgente. Depois se pensa em eventuais ressalvas.
O argumento técnico sustenta que a abertura força as empresas locais a buscarem maior eficiência e produtividade, resultando em produtos melhores e mais baratos.
Quanto ao emprego, a equipe diz que a abertura pode, de fato, eliminar empresas em determinados setores totalmente inviáveis numa economia moderna.
Mas se isso ocorrer num ambiente de crescimento –e a abertura é parte de um programa de reformas para sustentar o crescimento– então não há perda de emprego no agregado.
Tradução: o país, crescendo, gera novas oportunidades, que absorvem os que tenham perdido a vez porque estavam em setores atrasados e vulneráveis à concorrência.
A argumentação parecia boa, mas perdia para a retórica da destruição do emprego. O ministro Ciro Gomes está virando o jogo.
Ele introduziu elementos políticos que faltavam à equipe econômica. De cara tratou de classificar os adversários da abertura como minoria poderosa e privilegiada.
Exemplo: refere-se à indústria automobilística como oligopólio das montadoras. Mas vai em frente e bate também no Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD.
Com salário médio de R$ 900, ou 13 mínimos, os metalúrgicos estão imensos degraus acima da maioria do povo brasileiro, tem dito o ministro.
Assim, o ministro coloca os adversários da importação na defensiva. Não estão mais defendendo a indústria e o trabalhador brasileiros, mas um oligopólio de multinacionais e uma minoria de empregados que já ganham muito mais que os demais.
Depois, Ciro Gomes introduz os consumidores, que serão sempre maioria em relação aos trabalhadores de um determinado setor. Há mais gente querendo comprar automóvel do que os produzindo.
Em resumo, os consumidores são a população brasileira. E aí Ciro afirma: ``Não se pode proteger os interesses de uma minoria, ainda que legítimos, contra os interesses da maioria".
Ora, o interesse da maioria é comprar carro bom e barato. Se o oligopólio local não produz nem o número suficiente de carros para atender o mercado, por que não importar? E, neste caso, não há nem ameaça aos empregos, diz Ciro, porque os importados vêm atender uma demanda excedente.
Juntando o discurso político do ministro e a proposta técnica da equipe, se verifica que a abertura às importações é uma disposição muito firme do Ministério da Fazenda.

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