São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994 |
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Tasso quer Estado `pequeno e forte'
PAULO MOTA
Para ele, a idéia do Estado neoliberal não vai prevalecer no governo do PSDB. ``Nós queremos um Estado pequeno, mas forte, intervindo como regulador dos desníveis de renda", disse. Para ele, a reforma da Constituição e implementação de um plano social de emergência devem ser tarefas inadiáveis de FHC. Veja a seguir os prinicipais trechos da entrevista de Jereissati, concedida à Agência Folha, na noite da última sexta-feira, em seu escritório de trabalho, no bairro da Aldeota, em Fortaleza. Agência Folha - Em 1986, o sr. derrotou os chamados coronéis da política cearense pregando o fim das oligarquias. A sua volta agora não significa a instalação de uma nova oligarquia? Tasso Jereissati - Não. Nossa origem, que é baseada numa política urbana e de massas, nega o conceito de oligarquia. Além disso, nos últimos oito anos, nosso grupo gerou novas lideranças como o ministro da Fazenda, Ciro Gomes, o ministro do Planejamento, Beni Veras, e agora surge o senador eleito Sérgio Machado. Nenhum deles tem um comportamento oligárquico. Ao contrário, nosso grupo estimula o surgimento de novas lideranças. Agência Folha - As urnas mostram que sr. perdeu em Fortaleza e Juazeiro, os dois maiores centros urbanos do Estado. Jereissati - Nós perdemos em Fortaleza porque meu adversário (Juraci Magalhães, PMDB) foi prefeito da cidade recentemente e terminou sua administração com uma aceitação de 70%. Em compensação, ganhamos no chamado ABC cearense, que são as cidades da região metropolitana de Fortaleza com maior concentração operária. Perdemos em Juazeiro, mas ganhamos em Crato e Barbalha, que são duas cidades interligadas a Juazeiro. Ganhamos também nas duas cidades administradas pelo PT. Agora, não desejo a unanimidade porque, como dizia Nélson Rodrigues, toda unanimidade é burra. Agência Folha - O PFL e o PT têm lugar no seu governo? Jereissati - Sim. Pretendemos fazer um governo amplo e participativo, que tenha a colaboração também de outras forças. Será ao contrário do meu primeiro governo, que por ser de ruptura, era mais fechado. Agência Folha - A aliança feita nacionalmente entre o PSDB e o PFL terá vida longa? Jereissati - Esta aliança foi feita em torno de um projeto que o Brasil todo conheceu por intermédio do Fernando Henrique. Este projeto terá vida longa. Quais são as transformações políticas que acontecerão neste período, eu não sei. Com certeza, o projeto terá vida longa e será um projeto social-democrata. Agência Folha - Quais serão as prioridades de seu governo? Jereissati - O grande problema do Ceará é a questão do emprego. Nosso maior objetivo será gerar empregos. Aliado a isso, investimentos em políticas capazes de reduzir a miséria. Agência Folha - Qual o perfil que o PSDB deve assumir após o resultado destas eleições? Jereissati - O perfil que sempre teve. Algumas pessoas vão se surpreender porque só viram o PSDB e FHC como os criadores do Plano Real. Nós temos uma história de compromisso com a questão social e o novo governo vai refletir isso. Não existe entre nós a idéia neoliberal. Nós queremos um Estado pequeno, mas forte, intervindo como regulador dos desníveis de renda. O governo FHC terá um perfil social-democrata. Agência Folha - Como o PSDB cearense pretende influir na composição do ministério? Jereissati - Com certeza, não vai ser pedindo cargos. Queremos ajudar dando sugestões a partir da experiência que temos na organização do Estado e na elaboração de políticas sociais. Agência Folha - Como FHC deve proceder na escolha de seu ministério? Jereissati - Deve ser por meio de um processo participativo, negociado, político. Mas que tenha como critérios a competência e o comprometimento com o projeto aprovado na eleição. Agência Folha - Se o sr. for convocado, participará da equipe de FHC? Jereissati - Isso não passa pela cabeça de FHC nem pela minha. Iríamos frustar um movimento de apoio ao nosso projeto que ficou claro na vitória que tivemos. Agência Folha - Como o sr. avalia a postura de aliados de FHC que estão pedindo cargos no seu futuro ministério? Jereissati - Não é por aí. Quem está pensando assim entrou numa canoa furada. Agência Folha - O sr. defende uma participação do PT no governo de FHC? Jereissati - Em primeiro lugar, quero deixar bem claro que estou falando como um observador, porque só quem fala em nome do Fernando Henrique é o próprio Fernando Henrique. Como ele é um homem de diálogo, acredito que, quanto maior for a participação das forças políticas – e eu não digo através de cargos, mas da discussão de grandes projetos – melhor. Agência Folha - Que medidas são inadiáveis no governo de FHC? Jereissati - A reforma constitucional e programa emergencial de combate à fome são medidas inadiáveis. Agência Folha - Na questão da reforma constitucional, quais os pontos que devem ser mudados? Jereissati - Deve ser feita uma reforma tributária e na Previdência. Devem ocorrer reformas também para se ter um Estado mais flexível e eficiente. Agência Folha - O governo FHC deve aprofundar a política de privatizações? Jereissati - Deve ser feita com cautela, não de maneira ideológica, mas de forma pragmática. Tudo aquilo que seja mais eficiente para o governo. Agência Folha - O sr. defende que o governo de FHC banque o projeto de transposição das águas do rio São Francisco? Jereissati - Essa questão não deve ser discutida de forma passional, mas de maneira racional. A transposição é uma dessas formas. Acho que existe uma distorção muito grande na imprensa nacional na discussão desta obra. Eu acredito que este projeto é viável, mas que deve ser feito de uma maneira transparentee e negociada. Se, na discussão, o Brasil entender que esta não é uma das soluções para o problema da seca, que se aponte outra alternativa. 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