São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994
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E os gringos não vieram

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

O comportamento das Bolsas de Valores nestes últimos dias, com uma queda vigorosa dos preços das ações, parece revelar uma incrível contradição. A eleição de Fernando Henrique provocou um colapso do mercado que o senso comum associaria à vitória de Lula.
Desde que as urnas foram abertas houve uma queda de mais de 10% nos principais indicadores de preços das ações brasileiras. Se o estrago for medido nos segmentos mais especulativos, opções e outros derivativos, os números são ainda mais impressionantes.
Uma primeira explicação pode ser buscada com os profissionais mais antigos. Eles vão citar um velha máxima que manda comprar na expectativa e vender na confirmação de um fato esperado pelo mercado.
Se o nosso interlocutor aliar à experiência do passado uma capacidade de entender o momento presente, a explicação será um pouco mais completa.
À contradição entre expectativa e fato devemos somar o vencimento das opções e contratos futuros nos próximos dias. O embate entre comprados e vendidos aumentou o potencial especulativo da queda.
Outro agravante foi a esperança de entrada de recursos de investidores estrangeiros logo após a confirmação da vitória de FHC. Muitos especuladores compraram ações para posteriormente vendê-las mais caras para estes investidores.
Um erro de avaliação agravado por uma crise nos mercados de ações internacionais, pela alta dos juros nos EUA.
Finalmente, as especulações sobre uma eventual restrição dos movimentos de capitais financeiros, para dar suporte à taxa de câmbio, ajudou a compor um quadro depressivo no mercado de ações.
No fundo, o que estamos vivendo é o eterno conflito entre curto e longo prazos.
A vitória de FHC coloca de forma clara o Brasil no circuito financeiro internacional. Provoca ainda uma alteração profunda no tipo de investidor que passa a considerar nosso país como uma alternativa real de investimento.
Sua vitória deve também diminuir a importância do dinheiro quente ou ``smart money" e aumentar a participação dos investimentos de horizonte mais longo e menos especulativo. Mas vai levar algum tempo.

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