São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994
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Instituições apostam em juros altos este mês

DA ``AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

O Banco Central surpreendeu: iniciou outubro com uma taxa-over de 5,58%, quando o mercado esperava de 5,70% a 5,90%. A taxa projeta para o mês um custo básico do dinheiro de 3,59%.
Para parte das instituições, é pouco face às pressões inflacionárias. Além de alimentos e vestuário, a inflação está sendo puxada pelo aquecimento geral de demanda, típico do último trimestre. Por isso, as instituições apostam num IPC-r de 2,0% a 3,5%.
Elas acham que se o Banco Central não sancionar uma curva de alta para o over a partir desta semana, o juro real cairá, passando dos 2,2% de setembro para algo entre 0,09% e 1,06% este mês.
Mas, para essa ala ``altista", o Banco Central não conseguirá segurar as taxas de juros, evitando um inchaço nos custos financeiros das empresas e seu repasse aos preços: os juros subirão devido ao enquadramento dos bancos nas regras do compulsório bancário, cuja data final, próximo dia 28, não deve ser prorrogada.
Já a corrente ``baixista" garante que os 3,59% projetados para o over estão de bom tamanho. Para calibrar o juro real, o Banco Central estaria se guiando unicamente pelo comportamento do IPC-r (que não teria forças para passar do limite máximo de 2%).
O IPC-r não foi escolhido à toa para ser o termômetro oficial da inflação: como mede os preços do dia 16 de um mês a 16 do mês seguinte, foi o último índice a acusar baixa da inflação depois do Plano Real, mas também será o último a registrar o atual repique.
Pelo seu período de coleta, o IPC-r guarda estreita correspondência com a segunda quadrissemana do IPC da Fipe –que, também, dificilmente passará dos 2%.
Mesmo o grupo ``altista" não acredita em ritmo de alta da inflação para novembro e dezembro. São apressadas e exageradas as análises segundo as quais a queda das Bolsas de Valores este mês mostra reversão de expectativa de instituições, grandes investidores e agentes econômicos com relação ao Plano Real.
Uma previsão dessas precisaria ser ratificada pelo comportamento dos outros ativos e não foi: o dólar está em queda e os juros sobem timidamente.
Por que somente as Bolsas de Valores estão reagindo mal? Na verdade, quem rema contra a maré são apenas duas poderosas instituições cariocas, ambas na posição de venda para o vencimento de índice futuro (quinta-feira que vem) e de opções (dia 17).
Um exemplo da sua força pôde ser colhido na quarta-feira: circulou nas mesas a informação de que iriam impedir de qualquer modo o exercício da OTC-6, série de Telebrás PN com preço de R$ 47,00.
Para isso, o papel teria de cair 5,05% ao longo de sete pregões, tarefa difícil, mas não impossível para os dois bancos. Resultado: só na quinta-feira, o papel caiu 5,05%. Nem o capital estrangeiro ousa enfrentá-los.

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