São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994
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Jair Pereira arrisca hoje contra o Grêmio

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

E Jair segue arriscando: hoje, contra o Grêmio, volta a colocar em campo seu esquema ultra-ofensivo, com apenas Zé Elias de volante. E logo contra o Grêmio, que tem uma história longa e gloriosa de contragolpes. Ainda outro dia foi buscar sua classificação, pela Supercopa, em plena Avellaneda, com uma vitória que nos redimiu das recentes surras que os argentinos nos deram.
Na verdade, não há esquema ofensivo nem defensivo no papel. Tudo depende do comportamento dos jogadores em campo e da capacidade de atacar dos defensores e de defender dos atacantes.
Ainda no domingo passado, levando um papo com Luxemburgo, do Palmeiras, ele insistia num ponto: o futebol brasileiro só voltará a ser encantador quando os defensores souberem atacar como verdadeiros avantes e vice-versa.
Essa é a mesma tese de Telê. E não é nova. Remonta aos tempos de Aymoré Moreira, um visionário campeão do mundo em 62, mas jamais conseguiu nem sequer um título paulista, embora tivesse dirigido todos os grandes, algumas vezes.
Pois, de volta da excursão de 1968 à Europa –um desastre–, Aymoré preconizava o recuo de Gérson, o Canhota de Ouro, para a cabeça-de-área, a fim de ter por ali um jogador não apenas raçudo, tipo Denilson, o genuíno xerife de meio-campo da época, mas alguém com maior lucidez para fazer a bola rolar suave e maliciosamente em direção aos companheiros. Estes, porém, deveriam dividir fraternalmente o ofício de marcar, já que Gérson não era desse ramo.
Aymoré caiu ali mesmo, pela boca. E coube a Zagalo –creiam– a ousadia de recuar um armador nato, com Carpeggiani, para a cabeça-de-área, na Copa de 74, na qual o Brasil cumpriu uma das mais estéreis campanhas em matéria de gols.
Em contrapartida, Rubens Minelli, nos dois anos seguintes (75/76), levantou a taça brasileira, com uma equipe arrasadora lá na frente, inaugurando o ciclo dos dois volantes (e até três): o Inter, de Caçapava, Falcão e Batista.
Fui tão longe para não reprisar o passado tão recente do São Paulo de Telê, bicampeão do mundo, com dois, três, quatro e até cinco volantes.
Com isso, quero dizer que não dá para prever como se comportará hoje o Corinthians hoje. Mas um meio-campo composto por Zé Elias, Boiadeiro e Souza –com Marcelinho, Viola e Marques à frente–, se bem treinado e imbuído de deveres, pode perfeitamente cumprir as duas funções básicas do setor –marcar e armar. Além de esbanjar talento.

O episódio Mesquita Pimenta, ao menos, serve para se levantar novamente a questão da estrutura dos clubes.
São entidades privadas que adquiriram um perfil de administração nos tempos do amadorismo, perfil que se fixou mesmo ao longo dos anos de profissionalismo contido e que nos acompanhou até a década de 80. De lá pra cá, são milhões de dólares que rolam em transações de jogadores, em contratos publicitários etc.
Trata-se de um complexo quadro de negociações que não pode mais ser tocado por dirigentes amadores, do tipo que, durante o dia, cuida do seu ganha-pão e, no fim de tarde, dá expediente no clube. Ou larga tudo e se atira de cabeça no clube, mas busca uma compensação, ou não dá no couro.
É raro um abnegado milionário, como Vicente Matheus, que se confunde com o clube de tal maneira que já não se sabe quem serve a quem. As duas são fórmulas vencidas, no fim.

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