São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994
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Imóveis também não soltam tiras

JOSÉ LUIZ SCHUCHOVSKI

Há mentiras que, de tão repetidas, parecem verdades. E verdades que, de tão repisadas, parecem mentiras.
Isso vale para tudo: candidatos, políticos, governantes, partidos, produtos e serviços em geral e, principalmente, imóveis.
Que os imóveis são investimentos concretos, aplicações seguras ou bons negócios tem sido insistentemente dito, mas de uma forma tão pouco criativa que –há de se reconhecer– só ganha mesmo do esforço publicitário usado para vender ``Emulsão de Scott".
Nada contra o óleo de bacalhau (argh!) ou contra o esforçado velhinho (ufa!) que figurava no rótulo do xarope que arrepiou a infância de nove entre dez meninos obedientes.
Pelo que se vê, parece mais fácil promover chinelos que não soltam tiras ou ``cervezas" geladas (né, loira-da-feijoada?) do que colocar para o público em geral um negócio que –dá-lhe chavão– é, de fato, um negócio concreto, seguro, real e garantido.
Fazer o quê? Pensa a maioria dos incorporadores, corretores e construtores que vêem, embasbacados, a indústria automobilística vender, com ágio, carros e mais carros reluzentes para pessoas que não têm casa e, diga-se, nem dinheiro para gasolina.
Essa reflexão não retira os méritos das demais indústrias que abastecem os sem-chinelos e os sem-carros. Ao contrário. Vale para mostrar que a indústria imobiliária vende mal porque anuncia, promove e se comunica mal.
As exceções são raras, mas existem. Por conta de sistemas mais agressivos e eficientes há empresas construtoras e incorporadoras que vendem o que têm e o que (ops!) não têm. Não há o que reclamar desses poucos que conseguem vender os atrativos imóveis. Utilizam-se de indispensáveis pesquisas, de conceitos mercadológicos modernos oferecendo planos e preços ajustados às condições dos compradores e, por isso, levam a melhor.
Vale o alerta. Os construtores e incorporadores que quiserem continuar de pé deverão ser capazes de fazer muito, muito mais, que obras e edifícios bem feitos.
Terão que resgatar a essência das repetitivas verdades e mostrar ao público que não há de fato melhor negócio que o imóvel. Com a aquisição desses bens de raiz ganha-se, além de dinheiro e renda, estabilidade, segurança e, principalmente, um endereço que é pré-requisito da cidadania.
É preciso convencer que imóveis não são sequestráveis como a poupança pode ser, nem hipertributáveis como as demais aplicações financeiras, nem manipuláveis como as moedas estrangeiras e as ações, nem afanáveis como o outro e as jóias e nem desmancháveis como os cintilantes bólidos de quatro rodas.
Se todos esses argumentos, bem colocados, não bastarem para convencer, desculpem-se pelos plágios e informem que imóveis também não soltam tiras e também não dão chulé.

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