São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994
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`Romance' abala família real

ROGÉRIO SIMÕES
DE LONDRES

Se a personagem principal não fosse a princesa Diana, ``Princess in Love" (Princesa Apaixonada, lançado pela Blommsbury, US$ 24), de Anna Pasternak, passaria incógnito pelas livrarias do Reino Unido.
O livro que abalou a família real britânica nesta semana é um romance popular, com poucos atrativos ou emoções. Suas 192 páginas são um exagero para o que a autora tinha para contar.
O livro, que relata o romance entre a princesa de Gales e o major James Hewitt, começa numa recepção, em 1986, quando os dois são apresentados.
Ela fala sobre seu medo de montar cavalos e ele se oferece para ajudá-la. Começam uma série de aulas de montaria, acompanhada de vários telefonemas.
A princesa Diana diz a Hewitt que ela não é feliz em seu casamento. ``Eu estou cercada de pessoas, mas tão sozinha", diz. ``Você não está sozinha, você tem a mim", responde o major.
O casal chega então ao principal momento do livro: a primeira noite. Diana convida o ainda apenas amigo para um jantar no palácio de Kensington, onde reside.
Decide ``arriscar um copo" de champanhe e ``permitir ser amada, ser coberta de calor".
Ela o convida para ir a seu quarto. ``Diana levantou e sem dizer uma palavra esticou sua mão e vagarosamente levou James para seu quarto".
A autora evita detalhes a partir de então e escreve apenas que Diana chorou e ficou deitada ao lado de Hewitt.
Para registrar o quanto o casal aproveitou o momento, Anna Pasternak escreve que Hewitt (nu) olhava para Diana, ``protegida em seus braços dormindo o sono profundo dos exaustos".
O romance segue. Nenhum dos dois se sente culpado e Hewitt acredita que, fazendo Diana feliz, estaria na verdade ajudando seu país e a Coroa britânica.
O major continua a vê-la e aproxima a sua família da princesa. Diana conhece o pai, as irmãs e a mãe de Hewitt.
O relacionamento esfria quando o major vai para a Alemanha, a serviço do Exército.
Em seguida, vai à Guerra do Golfo, onde recebe cartas diárias da princesa. Mas apesar da correspondência, o relacionamento termina depois da guerra.
Anna Pasternak diz que obteve as informações do livro por meio de Hewitt, mas acrescenta à obra os pensamentos de Diana, desde o início do romance.
Antes da primeira noite juntos, a jornalista escreve: ``A cada vez que ela checava o relógio, a hora da chegada de James parecia mais longe."
É quando ``Princess in Love" parece mais uma ficção. Não há fontes citadas nem trechos das cartas que a princesa Diana teria escrito, o que reduz a importância histórica do texto.
Ninguém declarou oficialmente que o romance não existiu. Nem que a princesa não dormiu com o major. Mas se esta história tinha que um dia vir a público, o resultado poderia ser diferente. Ela poderia ter sido melhor contada.

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