São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Conservadorismo favorece republicanos

JAMES BAKER

Se as sondagens de opinião estiverem corretas, o dia das eleições, em novembro, poderá ser um grande dia para o Partido Republicano, no país –especialmente nas eleições federais. O partido tem boas chances de retomar o Senado, onde lhe faltam apenas sete cadeiras para atingir a maioria. Mesmo na Câmara dos Representantes, há 40 anos controlada pelos democratas, o Partido Republicano tem chances de conseguir as 40 cadeiras necessárias para eleger o deputado Newt Gringich, da Geórgia, como primeiro presidente republicano da Câmara desde Joe Martin, em 1954.
A mesma coisa que acontece no Congresso se aplica aos níveis estaduais e locais. É possível que em 95 os quatro grandes Estados (Califórnia, Texas, Nova York e Flórida) tenham governadores republicanos. As eleições vão proporcionar aos republicanos uma chance de começarem a formar uma nova coalizão governante de conservadores e moderados.
Os republicanos têm muitos motivos para verem as eleições do mês que vem com otimismo. A reorganização dos distritos eleitorais vai terminar por favorecer os republicanos. Estes também vão se beneficiar de uma das leis imutáveis da política americana: o partido do presidente, mesmo no caso de presidentes populares como Dwight D. Eisenhower e Ronald Reagan, invariavelmente perde vagas no Congresso nas eleições realizadas em anos em que não há eleições presidenciais.
Como a maioria dos deputados atuais é democrata, os republicanos podem se beneficiar da atual febre antideputados que assola o país. O sentimento nacional de raiva contra Washington vai funcionar contra os congressistas democratas, muitos dos quais se distanciaram de seus eleitorados e, após décadas de reinado quase inconteste, passaram a enxergar as reformas com desprezo.
O Partido Republicano pode se beneficiar da inusitada impopularidade do presidente, especialmente no sul e oeste do país. Parte dessa impopularidade se deve à abordagem esquerdista de }velho democrata adotada em relação a questões de política e cargos; parte é resultante do estilo de governo desta administração, em que sessões noturnas de estilo colegial, em torno de uma pizza, frequentemente substituem as reuniões de governo, e parte é resultante de uma política externa confusa. Mas a má vontade demonstrada em relação ao presidente parece ter raízes mais profundas do que a política partidária –parece advir de seu estilo de liderança.
Mas, o que é mais importante a longo prazo, os republicanos têm uma oportunidade de ajudar a formar um conservadorismo crescente entre os eleitores americanos.
Esse conservadorismo vem se manifestando em sucessivas pesquisas em que os americanos opinam a favor de medidas mais duras contra a criminalidade, regras mais rígidas relativas à seguridade social e um retorno aos valores americanos tradicionais como a responsabilidade pessoal, o trabalho duro e o compromisso com a família. De modo geral, cada vez mais americanos demonstram desconfiança em relação ao governo, especialmente em nível federal.
O crescente ceticismo público é a razão fundamental do fracasso da proposta de reforma da saúde da administração atual. Embora a maioria dos americanos visse com bons olhos as metas do presidente, de cobertura universal e contenção dos custos, eles recuaram diante da perspectiva de entregar o sistema de saúde à burocracia federal.
Não foram os interesses especiais, o obstrucionismo republicano ou mesmo a má administração política do governo que fadaram o plano Clinton de reforma da saúde ao fracasso. O próprio plano era inaceitável para a população, desconfiada demais do governo.
O equilíbrio do poder político americano em eleições gerais continua onde sempre esteve: nas mãos das dezenas de milhares de moderados que se consideram centristas. Hoje, porém, esses moderados têm em comum uma série de convicções –sobre criminalidade, seguridade social, valores, papel do governo– que têm muito mais ressonância entre os conservadores do que entre os liberais.
Devido a este fato, os republicanos têm uma oportunidade real –neste outono e mais tarde, em 1996, em nível presidencial– de formarem uma coalizão governante de moderados e conservadores.
Os mais fortes governos americanos têm sido produtos de coalizões. A coalizão de centro-esquerda de Franklin D. Roosevelt trouxe o ``New Deal" e modificou a sociedade para sempre. A coalizão de centro-direita de Ronald Reagan inaugurou transformações de amplo alcance, levando à criação de mais de 20 milhões de empregos, à maior expansão em tempos de paz na história ao fim do confronto Leste-Oeste.
Alguns setores acreditaram que a eleição de Bill Clinton, em 1992, revelara a possibilidade de se criar mais uma coalizão governante de centro-esquerda. Hoje está claro que essas previsões foram prematuras. De fato, o histórico dos últimos 20 meses da administração demonstra que não existe coalizão viável de centro-esquerda porque os moderados se deslocaram para a direita. Os liberais não.
Isto se aplica mesmo no interior do Partido Democrata. Os líderes democratas no Congresso tentaram atribuir aos republicanos a culpa pelo fracasso de boa parte da agenda doméstica da administração –especialmente a reforma do sistema de saúde. Mas seus argumentos não convencem. Os fracassos legislativos de Clinton aconteceram num Congresso em que ambas as casas estão sob o firme controle de seu próprio partido.
A administração tentou formar coalizões entre os liberais e moderados do seu partido –e, em muitos casos, fracassou. Mesmo nos }êxitos da administração –o orçamento de 93 e a lei sobre criminalidade de 94– congressistas democratas, entre eles moderados, votaram contra a administração.
Muitos desses democratas moderados, especialmente os do sul e oeste do país, são vulneráveis a essa queda. Em contraste, algumas das vozes mais liberais do Congresso detêm vagas }seguras. Isso quer dizer que em 95 os democratas no Congresso podem muito bem serem ainda mais liberais e ainda mais incapazes de se aproximarem do centro-moderado.
Neste outono os republicanos precisam fazer mais do que aproveitar os fracassos da administração Clinton. Na melhor hipótese para eles, será possível ganhar o controle da Câmara e do Senado. Outra possibilidade é que os democratas conservem o controle nominal da Câmara e do Senado, mas que os republicanos e os democratas conservadores tenham oportunidades para controlar a agenda política de vez em quando.
Os republicanos terão que oferecer aos americanos uma visão alternativa para o país. O partido terá que desenvolver uma agenda para governar, que ao mesmo tempo reflita as posições-chaves conservadoras e atraia os moderados desiludidos com os democratas e desconfiados do governo com ``G" maiúsculo.

JAMES A. BAKER 3º foi secretário de Estado norte-americano de 1989 a 1992.

Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: Desemprego nos EUA é o menor em 4 anos
Próximo Texto: Helmut Kohl tenta reeleição na Alemanha
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.