São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 1994 |
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Médicos fazem incubadeira com lençóis
FERNANDA DA ESCÓSSIA
A reportagem da Folha acompanhou o plantão do último fim-de-semana no Hospital Souza Aguiar (centro do Rio) e constatou que o trabalho dos médicos é totalmente improvisado. Na madrugada de sábado, uma cirurgiã realizou um parto na sala de eletrocardiograma e um homem morreu na pia do hospital. A criança, Gustavo, nasceu às 3h40. A mãe, Luzinete Frutuoso, 18, grávida de sete meses, chegou ao hospital com a bolsa d'água rompida, depois de ser recusada na maternidade da praça Quinze. Prematuro, Gustavo teve que passar pela emergência pediátrica. Como o hospital não tem incubadeira, os médicos improvisaram uma, com lençóis e uma luz sobre o bebê. Esta semana a superlotação também obrigou os médicos do Souza Aguiar a utilizarem a pia da emergência como leito para realizar dois partos. Luzinete Frutuoso teve mais sorte: os médicos conseguiram uma maca para fazer o parto na sala de eletrocardiograma. Gustavo nasceu pesando 1,8 kg. A pedido da mãe, a cirurgiã Simone Castilho escolheu o nome do garoto. Simone também estava na equipe que fez os outros dois partos e brincou: ``ainda vou ser obstetra". Luzinete e Gustavo foram transferidos para a maternidade Fernando Magalhães, em São Cristóvão (zona norte). O pai, Fábio Guimarães, é cabeleireiro. A família mora num barraco na Central do Brasil. Depois que viu a mulher internada, Fábio desapareceu. ``Estava nervoso, aposto que saiu para tomar umas e criar coragem", brincou o segurança do hospital. Os médicos comemoraram o terceiro parto da semana, num hospital que não é maternidade e não tem sequer um obstetra. Um enfermeiro que não se identificou comparou a emergência superlotada com uma situação de guerra. ``Isto aqui parece a Bósnia", disse ele ao observar um mendigo, muito magro, acomodado sobre uma pia de metal, recebendo soro. Na emergência masculina e na sala de politraumatizados, onde ficam os pacientes mais graves, pelo menos seis pessoas eram atendidas no chão, por falta de leitos. Duas horas após o nascimento de Gustavo, às 5h45, o mendigo que estava na pia morreu de tuberculose, segundo os médicos. Jorge Inácio dos Santos havia chegado à emergência às 20h30 de sexta-feira. Foi difícil até encontrar um lençol para cobri-lo. Uma auxiliar conseguiu um pano branco, todo rasgado, para enrolar o corpo. Na avaliação do subchefe da equipe médica, Saint-Claire Senna, ``foi um plantão tranquilo". Texto Anterior: Confronto entre sem-teto e PM fere 31 em Limeira Próximo Texto: Diminui procura pela urgência Índice |
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