São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 1994
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Oostende 1994

FRANCESC PETIT

Este é um balneário no litoral belga, a cento e poucos quilômetros de Bruxelas. A cidade tem apenas 70 mil habitantes. O tempo nublado, com uma chuva fina e uma temperatura entre 10 e 14 graus positivos, o Mar do Norte escuro e sempre com uma forte cerração; a praia de areia dura e cinza, de clima extremamente melancólico. Velhos casais, cobertos com agasalhos e guarda-chuvas, faziam suas caminhadas neste cenário depressivo, ideal para se filmar uma tragédia... Oostende é uma Cannes do Mar do Norte.
Nesse clima foi realizada a 1ª Bienal Mundial de Marcas e Logos. O mais impressionante foram as seis exposições montadas para exibir as marcas apresentadas, uma no Museu de Arte Moderna, onde foram expostas as marcas do Japão, especialmente os trabalhos de Takenobu Igarashi, com suas maquetes em aço e alumínio, verdadeiras obras de arte.
Também estavam expostas as marcas de museus, em painéis impressos em serigrafia e moldurados com muito bom gosto. Entre elas estava a minha, feita para o Masp. Nunca na minha vida profissional pude ver uma montagem tão bem cuidada e generosa; deve ter custado uma fortuna!
No palácio de Leopoldo 2º, no passeio da praia, foram expostas as marcas de bancos. Lá havia duas minhas, o Itaú e o Banco Português do Atlântico.
No Museu de Belas Artes, no pavilhão de Media Center e no Casino-Kursaal, a maioria das marcas da minha autoria. No total tive 29 expostas nesses vários salões. Uma coisa que surpreende, é como uma cidade tão pequena, de veraneio, tem tantos locais de boa qualidade, com grandes auditórios e salas de exposições.
Entre os conferencistas, os que mais brilharam foram Burton Kramer, do Canadá; Julien Behaeghel, da Bélgica, e Takenobu Igarashi. O campeão foi o ítalo-inglês Marcello Minale, que iniciou dizendo que esta história de marcas feitas a partir de estruturas geométricas é uma grande besteira, além de muito velho e repetitivo. Ele acredita em signos gestuais e idéias que virem marca e deu uma ênfase muito grande ao trabalho de implementação da imagem corporativa de grandes empresas.
Ele mostrou o extraordinário trabalho de design que fez para os novos postos de gasolina de British Petroleum e para Shell, com mais de 40 mil postos em diversos países. Também a Repsol espanhola, um trabalho primoroso de arquitetura promocional com grande sensibilidade para os conceitos de marketing dessas grandes empresas, pois, assim como as agências de bancos e redes de fast-food, os postos de gasolina são comerciais de TV ao vivo e devem desempenhar papel fundamental na imagem da empresa, na promoção e propaganda.
No momento eles estão desenhando os novos trens de alta velocidade ingleses. Só esta apresentação do Marcello Minale valeu a ida a Oostende.
O ex-presidente da Iograda Helmut Langer foi muito soft e deu um clima de sono em palestras que mereciam debate mais caloroso, como no caso do alemão Herbert Kapitzki, trazendo velhas teorias da igual velha escola de Ulm.
Como sempre, a total ausência de publicitários, diretores de arte e artistas gráficos nestes eventos mais sérios, que não distribuem ``leões" nem ``gatos". Perdem assim uma oportunidade única de aprender coisas que os enriqueceriam profissionalmente. Perceberiam o valor que tem uma boa imagem corporativa, um excelente logotipo, uma grande marca e todos os cuidados que devem ser tomados para manter a imagem dos seus clientes, sempre na vanguarda, valorizando cada dia mais o seu patrimônio empresarial.
Em geral, todos os participantes eram gentis e bastante preparados. Como de costume, os designers são um povo meio chato, calado e cheio de manias, com uma bagagem surrada de teorias da Gestalt que não servem para nada.
O clima era meio severo no primeiro dia. Mas, com um certo toque brasileiro, consegui descontrair o ambiente e torná-lo um pouco mais criativo e alegre.
É importantíssimo para a cultura profissional assistir a debates inteligentes sobre um assunto tão hermético e especializado como o são marcas e logotipos. Isso tudo se deve exclusivamente ao esforço e empenho do presidente do International Design Colloquium, Paul Ibou, que foi um grande anfitrião, e com um expressivo apoio das autoridades belgas.
Espero que ninguém perca a segunda Bienal de Oostende em 1996, até posso conseguir que sejam distribuídos uns 500 cachorros belgas de ouro, prata e bronze, como isca para voltar na próxima Bienal...

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