São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pela ética na OAB - 1

LUÍS NASSIF

Na semana passada, através de seu presidente José Roberto Batochio, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) tornou-se campeã nacional da arrogância e da falta de limite. Aos jornais, Batochio declarou que, se quiser voltar à advocacia, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Paulo Brossard, terá que ``impetrar habeas-corpus ou entrar pela porta dos fundos".
Referia-se ao poder de retaliação da OAB, como agente de credenciamento de advogados, contra a resistência de Brossard ao novo estatuto da classe.
Esse estilo insolente já havia se manifestado em episódios anteriores. Na revisão constitucional, com exceção do lobby dos juízes classistas, não houve personagens mais agressivos e inconvenientes do que a dupla Batochio-Lavenère (seu antecessor na OAB).
Na votação do Estatuto do Advogado, o relator Nelson Jobim também foi alvo de grosserias sem conta da parte de Batochio. Recentemente, os telespectadores do programa ``Entrevista Coletiva``, da TV Bandeirantes, puderam testemunhar ao vivo e em cores acusações levianas de Batochio contra o candidato do PPR, Esperidião Amin.
No entanto, na faculdade, Batochio foi um simpatizante do Comando de Caça aos Comunistas. Sua conversão não se deu depois de adulto. Tanto que sua eleição para a presidência da OAB-SP foi saudada, entre outros, por Paulo Maluf e pelo profissional de entrevistas Ferreira Netto --aliados de Amin.
Pouco tempo depois, já na presidência da OAB nacional, Batochio investe contra antigos aliados, alia-se ao PT e à CUT, comenta em rodas de advogados ter sido convidado para ministro da Justiça do governo Lula (os petistas negam enfaticamente), alia-se à Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), numa campanha de difamação contra os defensores da revisão constitucional, e se autoproclama um dos inspiradores da campanha ``pela ética na política``.
Nas próximas colunas, tentar-se-á levantar um pouco dos insondáveis caminhos que levam uma organização vista poucos anos atrás como campeã dos direitos civis, a essa falta de limites em relação ao seu espaço político.
Vai se perceber, a partir do exemplo da OAB, como muitas das instituições da chamada sociedade civil organizada, que fizeram nome na luta contra a ditadura, foram tomadas de assalto por aventureiros que passaram a utilizar a ideologia como mero instrumento de tomada e exercício de poder.

Texto Anterior: Dá para franquear a limpeza de túmulos?
Próximo Texto: Cartão de crédito fatura US$ 1 bi em setembro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.