São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 1994
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Montenegro brande tacape contra paulistas

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Na noite de sexta-feira, Montenegro, o presidente do Botafogo, investiu contra o futebol paulista, brandindo como um tacape um linguajar que não corre solto nem nos botequins de Madureira e Oswaldo Cruz, o principado do samba.
Entende-se a revolta do torcedor, que, por coincidência é também dirigente. Afinal, ele via seu Botafogo perder por 1 a 0 do São Paulo, gol de pênalti, no final de um jogo dramático. Além do mais, seu time teve três jogadores expulsos. O pênalti foi claro, as expulsões duvidosas, mas o domínio tricolor indiscutível.
O fato é que, no auge de seu destempero, Montenegro quis justificar a pobre fase do futebol carioca como resultado de uma grande mutreta destinada a favorecer o futebol paulista.
Nenhuma importância teria tais diatribes se saídas da boca de um cartola tradicional, tipo Eurico Miranda, ou, para ficarmos com os nossos, tipo Eduardo José Farah.
Mas Montenegro veio no bojo de um movimento que empolgou quase todos os grandes cariocas e que se propunha a resgatar o prestígio perdido, com a implantação de uma nova mentalidade, mais profissional, ``modernizante", como se convencionou chamar tudo que, teoricamente, contrarie métodos ultrapassados, na política, na cultura, na moda e até no futebol.
Mais ainda: Montenegro é, entre outras coisas, dono do Ibope, provavelmente o mais importante instrumento de poder deste país. Se levarmos em conta que o maior volume de dinheiro existente por aqui destina-se às verbas publicitárias e estas são canalizadas de acordo com os índices desse instituto de pesquisa, pode-se avaliar a sua verdadeira dimensão. É o Ibope quem dita para onde deve ir esse dinheiro. Mais além: todos sabem que os institutos de pesquisa são decisivos nas eleições para prefeito, governador, presidente e formação dos diversos parlamentos. Isto é: poder político. Meu Deus, quem dispõe, ao mesmo tempo, do controle do poder econômico e político? Completando o ciclo, o poder da mídia eletrônica, que sobrevive às custas do Ibope, e que é a mais poderosa máquina de formação da opinião pública que o homem já engendrou em sua história?
Se o detentor supremo de todo esse poder é capaz de descambar para tais desvãos da lógica, por causa de um jogo de futebol, que dirá em temas muito mais significativos para a vida do cidadão, que vão desde a pasta de dente a ser utilizada até a escolha do presidente da República?
Claro que pode ter sido um desabafo do torcedor. Mas, pelo sim, pelo não...
Pelo sim, pelo não, no dia seguinte, a realidade tratou de colocar as fantasias de Montenegro no seu paranóico lugar: o modesto Guarani, do interior paulista, foi ao Rio e ganhou do Flu. Aqui, o Corinthians virou sobre o Vasco: 2 a 1, num jogo em que os paulistas foram claramente superiores aos cariocas.
No futebol, como na vida, no fim, a verdade sempre haverá de prevalecer. Senão, de que vale viver?
Marcelinho é, hoje, o melhor do Brasil, disparado. Marcelinho é carioca, e veio pra São Paulo a preço de banana. Esse é o complô.

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