São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 1994 |
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MEGADETH
CAMILO ROCHA
O Megadeth surgiu em 1983, depois que Dave Mustaine saiu do Metallica e se juntou ao baixista David Ellefson, então com 18 anos. Os resultados foram LPs como ``Killing Is My Business... And Business is Good" (85) e ``Contdown To Extinction" (92), que lembravam o ouvinte o tempo todo de que o mundo é um lugar estúpido. O novo LP, ``Youthanasia", é livre de superprodução e tem um feeling mais despojado, mas soa comedido e tradicional comparado ao que Sepultura, Biohzzard ou Fudge Tunnel estão fazendo. Ellefson e o guitarrista Marty Friedman, nesta entrevista à Folha, se mostram cidadãos respeitáveis e caretas –chegam a dizer que alguns discos de rap deveriam ser censurados. Folha – Sobre o que é o LP ``Youthanasia"? Ellefson – O título é um jogo com as palavras juventude (youth) e eutanásia. A juventude de todo mundo está sofrendo eutanásia. O sistema educacional está tão ferrado que, a não ser se esforce muito, você não vai conseguir aprender nada. A garotada foi emburrecida a ponto de não enxergar como isso está errado e não tentar fazer nada a respeito. Folha – Vocês têm um problema histórico com a censura nos EUA. Vocês acham que podem ter problemas com o novo disco? Friedman – É esperar para ver. Mas não é algo em que pensamos quando fazemos um disco. Elefson – Os EUA estão indo numa direção cada vez mais conservadora. Aí aparecem uns babacas que fazem de tudo para chocar. Se apresentam como rebeldes que querem enfrentar o sistema, mas querem é se promover em cima de controvérsia. Isso deveria ser censurado porque é burro, não tem nada a ver com integridade artística. Como muitos artistas de rap que dizem coisas vulgares e ridículas nas suas músicas, só para chocar. Folha – Mas como fica a liberdade de expressão? Ellefson – Mas veja só. Dave tem um garotinho de dez anos. Nunca me preocupei com esse papo do que as crianças estão vendo ou ouvindo, mas vendo Dave eu entendo a preocupação dele como pai. Folha – Mas até pouco tempo atrás vocês podiam ser vistos oferecendo nada além de negativismo. Então você ``entende" agora aqueles que queriam censurará-los? Ellefson – Sempre vamos ser contra banir uma coisa feita com bom gosto. Nós usávamos palavrões na nossa música, mas não gratuitamente, sempre tinha a ver com a letra. Folha – Vocês estão na casa dos 30 –ou quase–, têm famílias, alguns têm filhos. Como isso está refletindo na sua música? Ellefson – Amadurecer foi bom para a gente. Quando você é jovem, a vida é só batalha. Agora que vendemos muitos discos e conseguimos muito respeito junto aos fãs e à indústria musical, temos menos motivos para ser recalcados. Podemos ter orgulho do que alcançamos. Friedman – Gosto de escutar coisas com atitude agressiva. Mas as letras podem falar de outras coisas. A música pode continuar agressiva, poderosa e dolorosa, porque sempre vai haver algo com o que ficar revoltado. Mas se você vai escrever sobre experiências pessoais, tem que ser honesto. Nossos fãs percebem isso no ato. Não vamos dizer ``Está tudo ruim para a gente, a vida é uma droga", porque seria falso. Folha – O que esperam desta próxima visita ao Brasil? Ellefson – É um lugar onde gostamos de tocar, já fomos duas vezes. Eu sei que parece meio batido falar isso, mas o público é uma das coisas que mais impressiona. Queríamos ter mais tempo para conhecer melhor os lugares e as pessoas, mas nunca dá. Texto Anterior: Estrelas e constelações estão em constante mudança nos céus Próximo Texto: O rock brasileiro precisa mesmo é de profissionais Índice |
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