São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 1994
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Liberal e social

À medida que se aproxima o novo governo, reanima-se a discussão a respeito da política social e da reestruturação do Estado. Há diferentes expectativas e desejos sobre a prioridade das reformas de mercado e das políticas sociais.
Está claro que o processo de liberalização e integração internacional não deve ser interrompido, que o Estado precisa ser reestruturado e a estabilidade econômica preservada. A queda da inflação e manutenção de um crescimento econômico equilibrado, entretanto, não bastam para enfrentar a miséria, o analfabetismo funcional, as carências nas áreas de saúde, saneamento básico.
Não resta dúvida de que é imprescindível a criação de um ambiente econômico favorável aos investimentos e que propostas de gastos populistas, sem base em receitas reais, são inaceitáveis. Tentar favorecer as camadas mais pobres desequilibrando as contas públicas é contraproducente.
Mas, por outro lado, seria igualmente enganoso afirmar que o bom desempenho macroeconômico garante por si mesmo o avanço social. A magnitude das mazelas nacionais transcende em muito o limitado efeito indireto do bom funcionamento do mercado. Como ocorreu na Argentina, o crescimento pode vir acompanhado do desemprego e, no Brasil, são já 30 milhões os miseráveis e indigentes.
Ainda não está claro em que termos se dará a escolha do futuro governo entre adotar políticas sociais baseadas na recuperação das receitas públicas ou manter uma baixa participação do Estado nessas áreas.
A maioria dos brasileiros espera, naturalmente, que a normalização da economia traga uma melhora em suas vidas; deseja que as escolas funcionem bem, que os hospitais e postos de saúde atendam corretamente, que o transporte público melhore, que os salários e pensões aumentem, deseja, enfim, tudo que é desejável; mais do que é possível realizar. O Brasil pós-diretas, pós-impeachment, pós-CPI é mais exigente. O desafio do futuro presidente está em conduzir o país aos novos padrões de mercado sem frustrar as bandeiras históricas da social-democracia.

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