São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 1994
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Polícia e bandido

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – Em São Paulo, cerca de 70 policiais estão sendo acusados de agir como bandidos. Já foi pedida a quebra do sigilo bancário de 41. Suspeita-se que enriqueceram extorquindo, traficando drogas e roubando.
No Rio, um juiz empenhado em descobrir fraudes eleitorais está ameaçado de morte pelo crime organizado e precisou de proteção do Exército para continuar seu trabalho.
Qual a diferença entre os dois casos? Nenhuma. No Rio, o crime organizado não teria tanta força se não estivesse associado a políticos, policiais e funcionários públicos. Vale lembrar que a chacina de Vigário Geral, em agosto de 93, foi vingança de policiais militares frustrados porque não conseguiram roubar um carregamento de cocaína destinado a traficantes da favela.
No Rio, a Justiça ainda investiga o envolvimento de bicheiros e de traficantes com políticos e policiais.
Em São Paulo, suspeita-se, não só as quadrilhas que assaltavam caminhões, roubavam carros e traficavam drogas tinham proteção policial como policiais participavam dessas quadrilhas.
E funcionavam como uma espécie de holding com várias empresas especializadas. Ora receptavam e comercializavam ouro roubado, ora comercializavam armas, munições, cocaína, gasolina ou cargas de eletrodomésticos, perfumes, roupas, cristais.
Ora recebiam as mercadorias e drogas de assaltantes para comercializar, ora comercializavam drogas e mercadorias que apreendiam de assaltantes.
Mais: falsificavam documentos, alugavam galpões para guardar mercadorias roubadas, agiam no comércio de desmanche de carros roubados.
Aí estão os retratos das duas mais importantes cidades brasileiras. Não são as únicas que têm polícias corruptas e criminosas. Mas pelo peso que têm, são exemplos suficientes da decomposição de boa parte de nossas polícias, que há muito tempo atravessou a fronteira que separa o legal do ilegal.
Não seriam mais policiais, mas bandidos com porte de arma e carteira funcional.

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