São Paulo, terça-feira, 18 de outubro de 1994
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FHC se diz príncipe consorte na antiga pátria da revolução

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

Erramos: 19/10/94

Diferentemente do que foi publicado, xale se escreve com X e não com CH.
O presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, cumpriu ontem, em Moscou, o que definiu de ``roteiro de príncipe consorte".
Limitou-se a servir de acompanhante para sua mulher, Ruth, que não conhecia Moscou e foi convidada a participar de uma reunião da Comissão Independente de População e Qualidade de Vida.
O casal acordou depois das 10h30 (5h30 em Brasília) e só saiu da embaixada brasileira por volta de 13h. Os dois estavam acompanhados pelo embaixador do Brasil na Rússia, Sebastião do Rêgo Barros, e sua mulher, Maria Cristina, a bordo de uma perua Transit, chapa 025D004.
Primeiro e óbvio ponto de parada: a Praça Vermelha, o cartão postal de Moscou, na qual ficam o Kremlin e a Catedral de São Basílio entre outros monumentos.
Como turista de primeira viagem, Ruth tirava fotos. Como turista que já conhece a cidade, FHC contava histórias.
Apontou para o Museu da Revolução e lembrou-se de ter visitado, na Geórgia (hoje república independente), a casa em que nasceu Josef Stálin, o superditador que governou a extinta União Soviética entre 1923 e 1953.
``Era um museu ao culto da personalidade", recordou-se FHC. Quando o grupo passava em frente ao mausoléu de Lênin, o profeta da revolução russa, que governou a ex-URSS entre 1917 e 1923, o jornalista William Waack, da revista ``Veja", brincou: ``Buscando inspiração, presidente?".
``Deus me livre, isso é tão tétrico", devolveu FHC. Na verdade, é mais patético do que lúgubre: havia uma única pessoa prestes a visitar o mausoléu.
Como quaisquer turistas, o grupo entrou na Gum, o enorme edifício de 1893 que abriga o maior shopping center da cidade.
Compras, nem pensar. FHC e acompanhantes limitaram-se a tomar café no Café Copacabana, enfeitado com bandeiras do Brasil e cheio de bombons brasileiros nas vitrinas. Pertence a Alexander Medevadosky, um russo-brasileiro.
FHC ia explicando por que escolhera Moscou, São Petersburgo, Budapest e Praga para viajar: ``A Ruth não conhece, e ninguém vai me reconhecer".
Errou. Kenzo Takemi, cientista político da Universidade do Japão, o reconheceu. Cumprimentou-o e disse que a sua eleição fora muito bem recebida no Japão.
``Que popularidade, hein", brincou o repórter da Folha. ``É, no Japão", devolveu, fulminante, o presidente eleito.
As barraquinhas dos ambulantes atraíram a atenção de Ruth e Maria Cristina, enquanto FHC filosofava sobre a compulsão das mulheres para as compras, rezando para que Ruth não o ouvisse.
Achava que seu orçamento não corria riscos. ``A Ruth é mais pão-dura do que eu". Enganou-se de novo. Ruth comprou um chale de lã de cabra por US$ 28. Ganhou de presente outro chale, bem mais simples, e um ``pin" da Russia.
O dia do ``príncipe consorte" feito turista terminou no Convento de Novadevich, em cujo cemitério está enterrado Nikita Krushov, sucessor de Stálin entre 1953 e 1964, que denunciou o terror implantado durante o stalinismo.
Também está enterrado lá o corpo de Laura Brandão, prima distante de FHC, que morreu na então União Soviética durante a resistência à invasão alemã na Segunda Guerra Mundial.

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