São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 1994
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Equipe conclui que restrição é necessária

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de uma longa discussão, e uma boa perda de tempo, a equipe econômica chegou à conclusão de que será preciso aplicar novas medidas para conter o consumo.
As medidas, ``de sintonia fina", conforme a definição de um membro da equipe, devem ser uma mistura de alta das taxas de juros com restrições concretas às compras a prazo.
A elevação de juros é certa. O objetivo é estimular poupança e encarecer as compras.
Restrições ao crediário, como limites do número de prestações, ainda estão em estudos. Alguma coisa será feita, mas ainda não se decidiu o que.
A equipe sabe que a decisão causa prejuízo político ao governo. O aumento do poder de consumo, especialmente dos mais pobres, foi apresentado como aspecto positivo do Plano Real.
A possibilidade de comprar mais, percebida pelas pessoas, foi um dos fatores que criaram o ambiente positivo em torno do Plano Real e ajudaram a eleição do candidato Fernando Henrique Cardoso.
Restringir esse consumo agora é como estragar a festa. O correto, do ponto de vista do programa econômico, seria aplicar as medidas de restrição desde o começo, como prevenção.
Mas essas medidas não são atraentes, especialmente para políticos e candidatos.
Além disso, a equipe econômica perdeu tempo discutindo se o crescimento do consumo era um fenômeno passageiro, limitado a determinados setores e produtos.
Se fosse isso, não haveria necessidade de elevar as taxas de juros.
Ocorre que essa atitude é perigosa: se o aquecimento do consumo for mesmo só uma onda, tudo bem. Era só esperar passar a onda.
Ocorre que essa atitude é perigosa: se o aquecimento do consumo for mesmo só uma onda, tudo bem.
Mas e se não for? Quando isso ficasse claro, o estrago já estaria feito. Acresce ainda que as ondas parecem se suceder e são largas. Compra-se de remédios a apartamentos.
Tudo considerado, a equipe vai apertar o consumo, ainda que seja por via das dúvidas. O ministro da Fazenda, Ciro Gomes, dizia que consumo é bom e não seria limitado.
Já está mudando de idéia, diante dos aumentos de preços estimulados pelas compras.
Na verdade, só uma explosão de consumo não preocupa a equipe econômica. É a do turismo internacional.
Os brasileiros estão torrando os dólares que compram barato. Tropeça-se em brasileiro nas ruas de Nova York e na Flórida.
Mas tudo bem. Aumentar os gastos em dólares é um dos objetivos da equipe econômica.

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